Comemoração de Finados
* Por Roberto Corrêa
Como existe dia de comemoração para tudo (dia das mães, dos pais, dos
namorados etc. etc.), não podia faltar o de comemoração dos mortos. É o Dia de
Finados que se fizermos exata verificação, induvidosamente, seria o mais antigo
deles.
Comemora-se, mas o destrinchamento do seu sentido esbarra em não poucas
dificuldades, pois não se compreende bem como podemos festejar quem se encontra
morto. Dia de finados relembra o dia que chegaremos ao fim. É uma realidade
triste para os que não aceitam a existência da vida futura (excluem-se os
cristãos, portanto).
Dado o sentido paradoxal dessa tradicional comemoração, de há muito os
infiltradores adversos a princípios religiosos e dilapidadores das diversas
crenças, vão minando todas as celebrações relativas ao evento com a
parafernália das distrações humanas,minadas sobretudo, com as pecaminosas
atrações da carne. As mais disseminadas e aceitas consistem em tornar esse
feriado religioso como oportunidade para se “desfrutar” uma praia ou fazer
pequenas viagens.
No nordeste, segundo me contou nossa auxiliar de serviços domésticos,
comemora-se como dia das almas, o que me parece nominalmente mais
acertado, pois as atenções humanas se dirigem mais aos que já partiram deste
mundo, ou seja, das almas que saíram dos seus corpos, provocando-lhes a morte
física.
As comemorações, em décadas bem mais antigas consistiam em orações pelas
almas dos falecidos, eventualmente liberando-as dos pecados cometidos ainda
quando vivos. Daí uma das razões da crença do purgatório pelos cristão-católicos.
Hoje, em consequência do declínio da formação católica não se encontra
em seu meio uniformidade de entendimento, razão pela qual o Pontífice Reinante
pretende dar cunhos de modernidade nas novas normas da liturgia cotidiana.
Enquanto isso, vamos continuar rezando ou orando, deprecando
especialmente para o incremento da fé, a primeira daquelas virtudes teologais.
Não podemos deixar de insistir no incremento dessa extraordinária virtude, pois
temos de crer absolutamente nos mistérios sobrenaturais e o exemplo de fé que o
dia de Finados nos proporciona é bem explicativo: nós vivos ,nesta data,
estamos cogitando (relembrando) de parentes e amigos falecidos, rezando,
assistindo cultos, visitando cemitérios etc.
* Roberto Corrêa é sócio do Instituto dos Advogados de São Paulo, da
Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e
Genealógico, de Campinas, e de clubes cívicos e culturais, também de Campinas.
Formou-se pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como
Procurador do Estado. É autor de alguns livros, entre eles "Caminhos da
Paz", "Direito Poético", "Vencendo Obstáculos",
"Subjugar a Violência”, Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades, O Homem
Só.
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