segunda-feira, 8 de abril de 2013


Degradação humana

* Por Roberto Corrêa

Há cerca de vinte anos, escrevi um texto que somente agora resolvo publicá-lo, para que o prezado leitor confirme, como eu, que já naquele tempo a situação era tenebrosa e na atualidade piorou bastante. Naquele tempo, ao que parece, entendi serem os termos do artigo muito pesados, talvez inadequados como mensagem educativa.

Vamos rever: “Não imaginava que a degradação fosse tão longe. Hoje chafurdamos na lama de hediondos crimes dissecados ante as câmaras da tevê e impressos nas capas de afamadas revistas! Monstros que estupram, matam e bebem o sangue de pessoas são retratados e entrevistados como figurantes máximos das rotinas de homicídios, infanticídios, abortos et caterva... Não bastasse o relato detalhado desses crimes selvagens, o noticiário televisivo, principalmente, se atem à podridão de enfermidades pestilentas e fatais, como à cólera, a aids, inúmeras outras moléstias, só faltando marcar a data para o apocalíptico fim do mundo. Tudo isso, porém, mitigado com as notícias econômicas de inflação em alta, recessão e desemprego crescentes, falências, mulheres famosas que se apresentarão completamente nuas em páginas de revistas ditas masculinas e assim por diante.

Oh tempus, oh mora! Óh tempo, oh costumes,parafraseando Cícero em sua célebre catilinária. Esses costumes, induvidosamente, são imorais e doentios. Não se veem vantagens algumas em chafurdar na lama, na asquerosidade das notícias como a do esquizofrênico matador de crianças ou do louco matador da família.

A onda de sequestros suavizou, mas a tônica dos desastres, catástrofes, enchentes, justiceiro de crianças, assaltos a banco e residências continua e o deleite parece geral, porque a tevê, como deusa imbatível e insubstituível, continua ligada e entronizada na maioria das casas e residências.

Quousque tandem Catilina, abutere patientia nostra? Até quando Catilina, abusará de nossas paciências, verberava Cícero. A grande maioria é unânime em reconhecer que a vida, de maneira geral, é má e gostaria de modificá-la. Apenas não sabe e não acredita que possa haver modificação para melhor.

Massacrado pela errada comunicação, o grosso da população se apega na irracionalidade dos instintos, haja vista as festividades carnavalescas, até no horário nobre das tevês. Felicidade! Como encontrá-la nesse meio tão corrompido e malévolo? Talvez, ao menos parcialmente, se um dia enviarmos definitivamente para o lixo as torpes mensagens dos doentios comunicadores”.

* Roberto Corrêa é sócio do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, de Campinas, e de clubes cívicos e culturais, também de Campinas. Formou-se pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como Procurador do Estado. É autor de alguns livros, entre eles "Caminhos da Paz", "Direito Poético", "Vencendo Obstáculos", "Subjugar a Violência”, Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades, O Homem Só.

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