Degradação humana
* Por Roberto Corrêa
Há cerca de vinte anos, escrevi um texto que somente agora resolvo
publicá-lo, para que o prezado leitor confirme, como eu, que já naquele tempo a
situação era tenebrosa e na atualidade piorou bastante. Naquele tempo, ao que
parece, entendi serem os termos do artigo muito pesados, talvez inadequados
como mensagem educativa.
Vamos rever: “Não imaginava que a degradação fosse tão longe. Hoje
chafurdamos na lama de hediondos crimes dissecados ante as câmaras da tevê e
impressos nas capas de afamadas revistas! Monstros que estupram, matam e bebem
o sangue de pessoas são retratados e entrevistados como figurantes máximos das
rotinas de homicídios, infanticídios, abortos et caterva... Não bastasse o
relato detalhado desses crimes selvagens, o noticiário televisivo,
principalmente, se atem à podridão de enfermidades pestilentas e fatais, como à
cólera, a aids, inúmeras outras moléstias, só faltando marcar a data para o
apocalíptico fim do mundo. Tudo isso, porém, mitigado com as notícias
econômicas de inflação em alta, recessão e desemprego crescentes, falências,
mulheres famosas que se apresentarão completamente nuas em páginas de revistas ditas
masculinas e assim por diante.
Oh tempus, oh mora! Óh
tempo, oh costumes,parafraseando Cícero em sua célebre catilinária. Esses
costumes, induvidosamente, são imorais e doentios. Não se veem vantagens algumas
em chafurdar na lama, na asquerosidade das notícias como a do esquizofrênico
matador de crianças ou do louco matador da família.
A onda de sequestros suavizou, mas a tônica dos desastres, catástrofes,
enchentes, justiceiro de crianças, assaltos a banco e residências continua e o
deleite parece geral, porque a tevê, como deusa imbatível e insubstituível,
continua ligada e entronizada na maioria das casas e residências.
Quousque tandem Catilina, abutere patientia nostra? Até quando Catilina, abusará de nossas paciências,
verberava Cícero. A grande maioria é unânime em reconhecer que a vida, de
maneira geral, é má e gostaria de modificá-la. Apenas não sabe e não acredita
que possa haver modificação para melhor.
Massacrado pela errada comunicação, o grosso da população se apega na
irracionalidade dos instintos, haja vista as festividades carnavalescas, até
no horário nobre das tevês. Felicidade! Como encontrá-la nesse meio tão
corrompido e malévolo? Talvez, ao menos parcialmente, se um dia enviarmos
definitivamente para o lixo as torpes mensagens dos doentios comunicadores”.
* Roberto Corrêa é sócio do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Academia Campineira
de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, de
Campinas, e de clubes cívicos e culturais, também de Campinas. Formou-se pela
Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como Procurador do
Estado. É autor de alguns livros, entre eles "Caminhos da Paz",
"Direito Poético", "Vencendo Obstáculos", "Subjugar a
Violência”, Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades, O Homem Só.
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