quarta-feira, 13 de março de 2013


Sociedades humanas precisam de leis

* Por Mara Narciso

Quando o ser humano caiu em si e sentiu que era um animal social, precisou ordenar os grupos primitivos, então foi necessário criar leis. Alguns códigos já existiam, mas as leis vieram na forma de dez mandamentos ou conselhos. É preciso sim, haver uma autoridade a ser respeitada e obedecida. É bom que se tenha um dia de descanso para nutrir o espírito, pensar, descansar. Respeitar os pais e protegê-los, assim como aos filhos, o que é primordial para manutenção da família, o princípio de tudo. Não matar, não furtar, não cometer adultério, não cobiçar o que é do outro, não mentir. Temos aí normas de conduta.

Para os católicos, quem não cumprir um dos mandamentos, descumpriu a todos, pois são indissociáveis. O também chamado decálogo, nas diversas religiões vê seus alertas se juntarem e se separarem conforme àquilo que se queira dar maior ênfase. As tábuas da lei foram importantes e ordenaram os bárbaros, pois delas foi tirada inspiração para organizar a sociedade. Cumpri-las, em última análise, beneficiaria seus seguidores.

Uma horda de pessoas sem freios precisava de alguém para lhes apontar o caminho, e isso foi feito, segundo a Bíblia, por Moisés, que libertou o povo prometido da escravidão no Egito e lhes trouxe do Monte Sinai as leis escritas por Deus. Assim foram determinados grandes preceitos éticos, sendo os quatro primeiros, relativos à autoridade do Criador, e os demais relativos ao próximo.

Os dez mandamentos foram princípios civilizatórios determinantes para os povos primitivos e ainda hoje são indicativos de bom comportamento. Deixando-os de lado e indo para os sete pecados capitais, pode-se ver que o seguimento dos mandamentos e a abstenção dos pecados se complementam para formar uma sociedade mais ordeira. Para ajudar a educar e controlar pessoas, os sete pecados, tidos como vícios, foram proibidos. Embora as grandes emoções estejam nos extremos (haja vista os esportes radicais), a virtude está no meio termo, e o combate aos excessos busca proteger a sociedade. A prática de vícios é decorrente de instintos humanos primitivos, irracionais e urgentes. Considerados condenáveis, devem ser evitados para o bem individual. São eles: gula (cobiça), avareza (idolatria, adoração de coisas), luxúria (paixões, prazeres carnais), ira (fúria), inveja (ciúme), preguiça (ócio) e soberba (vaidade, orgulho).

O tempo social ameniza pecados e muda o nome das coisas. A condenável gula foi mudada para ansiedade; a avareza foi transformada em planejamento para o futuro, luxúria virou a satisfação do desejo e a obtenção do prazer imediato e sem limites; explodir em ódio no trânsito ou em outro lugar é se defender e não levar desaforo; a inveja é estimulada pelos meios de comunicação e é a razão de ser da publicidade, calcada no desejo de ter; a preguiça foi incentivada pelos avanços tecnológicos e seu apertar de botões, e a vaidade é fomentada pela máxima de que só tem valor o que é jovem e belo. A sociedade de consumo, permissiva e com valores antagônicos ao combate de pecados tornou ainda mais difícil não cometer erros.

O orgulho não sai das telas. São tantos gestos de desdém, com gente grande espezinhando os menores, que há quem nem repare mais. Incentivam-se as pessoas a ser e a ter, e se esquecem de dar-lhes educação. O que se vê é gente desprezando as demais. A generalização comete equívocos, mas todos tendem a querer passar por cima dos outros. Esses paradigmas sociais acabam se contrapondo às sete virtudes: castidade (abstinência), temperança (moderação), generosidade (desprendimento), paciência (serenidade), diligência (presteza), caridade (compaixão) e humildade (modéstia). Seriam características de pessoas que tendem a praticar o bem.

Como buscam se oporem aos pecados capitais, as religiões estimulam o desenvolvimento das virtudes, e consideram que a sua prática leve ao encontro da felicidade. Cuidar do corpo engrandece ao espírito e constrói um bom cidadão, embora seja uma fala moralista que foge ao senso-comum. Assim, há pessoas contrárias a prática de parte delas.

Encerrando: é possível mudar palavras e flexibilizar leis, mudar o conceito de pecado e adaptar a prática de virtudes conforme a época, porém o respeito ao próximo e a prática do bem – mesmo que não saibamos a exata definição disso -, precisam ser intocáveis.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   

2 comentários:

  1. Acho muito válida a tese que você defende, e gostei da "releitura" dos mandamentos e pecados capitais aos novos tempos. Ótimo, Mara.

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    1. Agnóstica que sou, desde os 16 anos de idade (tem bastante tempo portanto) levei as proibições e pecados para o lado da organização da sociedade. É um pouco como a minha mãe nos dizia sobre os dez mandamentos, Marcelo. Acrescentei os pecados capitais e as virtudes. A população anda tão ocupada e com pressa, que nem sabe mais o que sejam essas coisas. Obrigada pela atenção de sempre.

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