Joaquim Barbosa, o herói da mídia
* Por
Urariano Mota
O ministro Joaquim
Benedito Barbosa Gomes teria todas as características para fazer da sua vida
uma história de superação. “Superação”, como se chama hoje na imprensa a luta
de pessoas que partindo de condições difíceis chegam a um final feliz, no que a
imprensa julga ser um final feliz.
De fato, a jornada
do ministro do STF, desde o nascimento, mostra a trajetória de um jovem que não
aceitou o destino dos pobres do Brasil. Atentem para o Benedito do seu nome,
que longe está de ser algo abençoado, bendito. Benedito é marca com foros de
genética, pois era o nome desde a senzala em homenagem ao santo dos pobres, o
franciscano negro São Benedito, que virou um qualificativo do passado de
violência e exclusão.
No breve resumo da sua vida, Joaquim Benedito Barbosa é filho mais velho entre oito crianças de pai pedreiro e mãe doméstica. Aos 16 saiu de Minas sozinho para Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense. Então se formou em Direito na Universidade de Brasília e concluiu o mestrado em Direito do Estado.
No breve resumo da sua vida, Joaquim Benedito Barbosa é filho mais velho entre oito crianças de pai pedreiro e mãe doméstica. Aos 16 saiu de Minas sozinho para Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense. Então se formou em Direito na Universidade de Brasília e concluiu o mestrado em Direito do Estado.
Mais adiante,
informa a montagem do seu perfil no STF, seguiu uma reta somente para cima:
Chefe da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde, Oficial de Chancelaria do
Ministério das Relações Exteriores, ministro do Supremo Tribunal Federal. Ali
será presidente. Mas pelo andar da carruagem, ocupará, depois desse estágio, a
direção da revista Veja ou da Rede Globo.
Entendam. Na parte
Barbosa do seu nome, o ministro Joaquim Benedito tem sido fiel discípulo das
aulas de Direito Constitucional, Penal e Administrativo dos jornais
brasileiros. No chamado Julgamento do Mensalão, a sua reta vem sendo também
ascendente, desde o roteiro montado pela mídia no Brasil, repetido em todas
tevês e jornais com pequenas alterações, já antes do julgamento:
O mensalão seria –
não, era! – um esquema clandestino de financiamento político organizado pelo PT
para garantir apoio ao governo Lula no Congresso em 2003 e 2004, logo após a
chegada dos petistas ao poder. Três grupos organizaram e puseram o esquema para
funcionar, a saber: o núcleo político, organizado pelo então ministro da Casa
Civil, José Dirceu, e integrado por outros três dirigentes partidários que
integravam a cúpula do PT no início do governo Lula; o núcleo operacional, de
Marcos Valério, dono de agências de publicidade que tinham contratos com o
governo federal, para usar empresas com o fito de desviar recursos dos cofres
públicos para os políticos indicados pelos petistas; e o núcleo financeiro, o
Banco Rural, que deu suporte ao mensalão, alimentando o esquema com empréstimos
fraudulentos. Etc. etc.
Além de seguir esse roteiro monótono, repetido à exaustão, em que os jornais anunciam o crime e o relator confirma, o ministro Joaquim Benedito Barbosa nesta semana foi mais longe, em sessão pública, filmada: ele comentou que os partidos políticos no Brasil são todos iguais, pois não se registram diferenças ideológicas entre eles.
Além de seguir esse roteiro monótono, repetido à exaustão, em que os jornais anunciam o crime e o relator confirma, o ministro Joaquim Benedito Barbosa nesta semana foi mais longe, em sessão pública, filmada: ele comentou que os partidos políticos no Brasil são todos iguais, pois não se registram diferenças ideológicas entre eles.
O que vale dizer,
no mundo brasileiro não há diferenças de classe na luta parlamentar, pois os
petistas são petralhas, e os socialistas, comunistas e o governo Lula são um
saco de gatos ou negócios. Com tal descrédito, o ministro paga o pedágio contra
o passado Benedito: os tribunais hão de corrigir o que o povo ignorante elegeu
pelo voto.
É natural que
Joaquim Benedito recolha agora os frutos da sua glória Barbosa. Todas as
noites, até os rincões profundos, em todos os noticiários o ministro aparece.
Ele jamais acordará para o que um dia disse de si um personagem de Tchekhov:
“Eu não gosto da fama do meu nome. É como se ela estivesse me enganando”.
Pelo contrário.
Diferente do Benedito da sua origem, sobre quem a lenda conta que, preocupado
com os mais pobres, furtava alimentos do convento, escondendo-os dentro de suas
roupas, mas foi surpreendido um dia pelo novo Superior do Convento, que
desconfiado perguntou: “O que escondes aí, debaixo do teu manto, irmão
Benedito?”. E o santo humildemente respondeu: “Rosas, meu senhor!” e, abrindo o
manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que
suspeitava o Superior...
Diferente das rosas
do santo, o ministro Joaquim exibe todas as noites o furto pautado na imprensa.
No processo do chamado mensalão, o ministro saiu do STF para um novo STJ, o
Superior Tribunal dos Jornais. Lá ele tem os seus diários 5 minutos de fama.
Tão pouco, para mudar a glória de uma vida que começou por Benedito e virou
Barbosa.
* Escritor, jornalista, colaborador do
Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha.
Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici
e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O
Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.
Isso que eu chamo de análise perfeita e isenta. Será que ele acredita ter sido mesmo um herói? Sempre desconfio quando vejo a manada correndo toda para o mesmo abismo. Pelo menos há alguém lúcido para ver diferente. E foi você, Urariano. Sou ex-petista, embora ainda filiada, mas não mais militante devido ao episódio do mensalão. Ele sustentou uma fraude, mas longe está de ter sido o que dizem. A condenação existiu para agradar a mídia. Parabéns!
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