As drogas e a primeira
vez de uma moça
Por Talis Andrade
Vi, por acaso, o fotolog de uma adolescente. A garota fala de sua primeira vez de uma maneira fascinante. Uma narrativa que conseguiu me prender. A menina sabe externar sua excitação. Todo o sentimento da primeira vez. É, a primeira vez ninguém esquece. O rito de passagem marca. A primeira vez de um homem também é assim. Recordo.
No meio da multidão a
garota viu de tudo. Homens embriagados. A droga rolava adoidado.
A jovem ficou
estonteada diante de tanta loucura. Cantorias. Gritos de guerra. Discussões.
Xingamentos. O texto flui, livre. Palavras de quem se sente livre para externar
suas impressões, e porque realmente participou – como testemunha – dos
acontecimentos.
O jornalista muitas
vezes escolhe o lugar errado. E, deslocado, não presencia. Tem uma visão
parcial. Escreve sobre planos fechados. Em close. O repórter esportivo, por
exemplo, não pode ficar na mordomia dos cartolas, com serviço cinco estrelas.
Ou na cabine do pessoal da televisão. Ou dentro do campo. Colado no técnico. Ou
na marcação desse ou daquele jogador.
Não passa a emoção de
uma partida de futebol. Da multidão na geral. É lá, na galera, que algumas
vezes o repórter deve colocar o traseiro. A notícia fria. As informações
previsíveis matam o prazer da leitura. Raramente folheio as páginas esportivas.
Falta tesão. O relato de um jogo é sempre igual. Parecem que mudam apenas o
placar.
Sou mais o texto da
adolescente descrevendo sua primeira vez no Maracanã. O pai, de férias no Rio, deixou o barco
ancorado, e levou a filha prometendo o deslumbre, a apoteose do estádio. A
primeira vez da moça foi decepcionante. A bola corre noutros campos. Na
verdinha. Apesar do registro recente de um jogador que comeu grama para
festejar um gol.
O torcedor vai ao campo
por vício, fanatismo, erotomania. O delírio, a loucura do torcedor pertence à
Legião Estrangeira. Diante de tantas pernas-de-pau, certas paixões considero de
um gosto duvidoso. Eudoimania. Fetichismo. Nada que motive um poema. Um grande
poeta como Glauco Matttoso. Talvez assim fique explicado o lance das drogas que
eu desconhecia.
SONETO FUTEBOLÍSTICO
Por Glauco Mattoso
Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.
Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.
É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.
Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.
Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.
Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.
É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.
Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 13 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Romance do Emparedado” (Editora Livro Rápido) e outros à espera de edição.
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