Minuano
* Por Augusto Meyer
Este vento faz pensar no campo, meu amigo,
este vento vem de longe, vem do pampa e do céu.
Olá, compadre, levanta a poeira em corrupios,
assobia e zune encanado na aba do chapéu.
Curvo, o chorão arrepia a grenha fofa,
giram na dança de roda as folhas mortas,
chaminés botam fumaça horizontal ao sopro
e a vaia fina fura a frincha das portas.
Olá, compadre, mais alto, mais alto!
As ondas roxas do rio rolando a espuma,
bate nas pedras da praia o tapa claro...
Esfarrapadas nuvens galopeiam
no céu gelado, altura azul.
Este vento macho é um batismo de orgulho.
Quando passa, lava a cara, enfuna o peito,
varre a cidade onde eu nasci sobre a coxilha.
Não sou daqui, sou lá de fora...
Ouço o meu grito gritar na voz do vento:
- Mano poeta, se enganche na minha garupa!
Comedor de horizontes,
meu compadre andarengo, entra!
Que bem me faz o teu galope de três dias,
quando se atufa zunindo na noite gelada...
Ò Mano,
Minuano,
ôpa upa
na garupa!
Casuarinas, cinamomos, pinhais,
largo lamento, gemido imenso, vento!
Minha infância tem a voz do vento virgem:
ele ventava sobre o rancho onde morei.
Todas as vozes numa voz, todas as dores numa dor,
todas as raivas na raiva do meu vento!
Que bem me faz! Mais alto, compadre!
Derruba a casa! Me leva junto! Eu quero o longe!
Não sou daqui, sou lá de fora, ouve o meu grito!
Eu sou irmão das solidões sem sentido...
Upa upa sobre o pampa e sobre o mar...
* Poeta, jornalista, ensaísta, folclorista e memorialista gaúcho
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