terça-feira, 6 de março de 2012







Oswaldivanas

* Por Guilherme Scalzilli

Escreveu Augusto de Campos: “(Ferreira) Gullar embolsa prêmios acadêmicos. Tem o seu público. Sua poesia é de bom nível, embora não tão boa quanto supõe. Nunca foi tão demagógica e previsível. E toda vez que ele se mira no espelho mágico da Spaghettilândia para perguntar quem veio primeiro, uma imagem familiar lhe responde: OS CONCRETOS, OS CONCRETOS... Mas há quem o superestime, perdoando ao poeta a incoerência e os deslizes facilitários, e ao homem a incontrolável vaidade, o fútil vira-casaca. Devia estar saciado. A gula não deixa. Parlapatético, reduz Oswald a um Papai Noel de alpargatas que lhe trouxe guloseimas. Grato com o agrado, fez um poeminha que guardou na gaveta quando Papai Noel morreu. Não sabe de nada. (...) Vã-guarda arrependida, o genioso e academissivo umbigófago de sandálias não percebe o quanto dista do genial antropófago de gravata, rebelde permanente”/


Pena que a refrega dos poetas tenha se esgotado logo, na própria falta de substância que a motivou desde o início. Divertiu-me a valer, no entanto, apesar da falsa vocação polemista que a Folha tenta reinventar com as migalhas da credibilidade restante. E foi gostoso ler alguém do porte de Augusto de Campos arranhando o lustro desse pajé oposicionista que Gullar personifica desde os governos Lula.


Quando escrevi um artigo sobre os equívocos políticos do poeta maranhense e de Caetano Veloso, este reagiu com virulência, numa carta à Caros Amigos. Tive então a valorosa oportunidade de trocar duas ou três mensagens com o genial compositor, que, aos olhos deste fã sempiterno, pareceu ter pelo menos compreendido meu argumento. Gostaria muito de saber o que ele pensa do imbróglio recente dos literatos que tanto aprecia.


Vista do meu canto provinciano e indiferente, a polêmica apenas realça a distância entre a iconoclastia oswaldiana (e mesmo a dos seus adoradores tropicalistas) e o cinismo bem comportado, apadrinhado, riso-amarelado que predomina pelas feiras literárias atuais. As mesas debatem as alegres peripécias das vanguardas, mas nunca aceitariam jovens provocadores que se comportassem como os mais cautelosos modernistas de 1922. Oswald seria trucidado em Paraty.

*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.

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