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Ouro Preto
* Por Risomar Fasanaro
Caminho por essas ruas de pedras, cercada pelo azul das montanhas que se mistura com as nuvens e constato que Guignard, o pintor de Ouro Preto, não sonhou, apenas passou para as telas o que esta cidade é: um poema.
Há imagens que nos tocam tão profundamente que não precisam de palavras. Seu silêncio nos diz tudo. Principalmente quando se está feliz.
Este chão de pedras colocadas uma a uma em forma de pé-de-moleque, estas ruas que sobem e descem, se curvam e nos levam a tantas igrejas nos envolvem em um outro mundo.
Com tantos anjos, arcanjos, e tantos querubins assim, peço licença ao Rosa pra que me salve meu Miguilim. Quero ver essas igrejas, todas de Nossa Senhora: do Rosário, das Mercês, do Pilar, da Conceição.
Também quero chegar perto, quem sabe tocar de leve na imagem de Santa Efigênia única santa negra do catolicismo. A igreja que fica no morro mais alto desta cidade, e que subi sem sentir. Construída por Chico Rei, aqui escravos disfarçaram e esconderam seus mitos, medos e segredos nos relevos dos altares. Aqui, um espelho de Oxum, ali uma espada de Ogum, um búzio de Yemanjá; acolá folhagens disfarçam o toucado de Iansã.
De cima santa Efigênia tudo vê. Abençoa seu povo escravizado que foi pelo branco opressor. Não pode cultuar seus deuses, rezar para seus orixás.
Caminho por Ouro Preto e os sons de flautas e órgãos inexistentes me trazem a música do compositor barroco Emerico Lobo de Mesquita
Nas ruas limpíssimas percebo a ausência de crianças, de cachorros e de velhos. Não existem? E se existem, onde estão? Mais um mistério dessas terras das minas gerais.
Ouro Preto com seus telhados de eiras e beiras que a chuva lava, lava, lava e não leva o que ficou do sonho de liberdade de Joaquim José, da triste história de amor de Marília e Dirceu.
Ouro Preto de luz e sombra, claro/escuro, mitos e mistérios. Ouro Preto e sua nostalgia barroca.
Ouro Preto do hotel Toffolo onde Bandeira, Drummond, Guignard, Tarsila e vários outros se hospedavam. Ouro Preto do Largo da Alegria, da rua da Glória, do Morro da Forca, do Beco da Mãe Chica, da mina de Chico Rei.
Ouro Preto onde há sempre o que desvendar, principalmente de mim, ainda que eu aqui venha dez, vinte, cem vezes mais...
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
Caminho por essas ruas de pedras, cercada pelo azul das montanhas que se mistura com as nuvens e constato que Guignard, o pintor de Ouro Preto, não sonhou, apenas passou para as telas o que esta cidade é: um poema.
Há imagens que nos tocam tão profundamente que não precisam de palavras. Seu silêncio nos diz tudo. Principalmente quando se está feliz.
Este chão de pedras colocadas uma a uma em forma de pé-de-moleque, estas ruas que sobem e descem, se curvam e nos levam a tantas igrejas nos envolvem em um outro mundo.
Com tantos anjos, arcanjos, e tantos querubins assim, peço licença ao Rosa pra que me salve meu Miguilim. Quero ver essas igrejas, todas de Nossa Senhora: do Rosário, das Mercês, do Pilar, da Conceição.
Também quero chegar perto, quem sabe tocar de leve na imagem de Santa Efigênia única santa negra do catolicismo. A igreja que fica no morro mais alto desta cidade, e que subi sem sentir. Construída por Chico Rei, aqui escravos disfarçaram e esconderam seus mitos, medos e segredos nos relevos dos altares. Aqui, um espelho de Oxum, ali uma espada de Ogum, um búzio de Yemanjá; acolá folhagens disfarçam o toucado de Iansã.
De cima santa Efigênia tudo vê. Abençoa seu povo escravizado que foi pelo branco opressor. Não pode cultuar seus deuses, rezar para seus orixás.
Caminho por Ouro Preto e os sons de flautas e órgãos inexistentes me trazem a música do compositor barroco Emerico Lobo de Mesquita
Nas ruas limpíssimas percebo a ausência de crianças, de cachorros e de velhos. Não existem? E se existem, onde estão? Mais um mistério dessas terras das minas gerais.
Ouro Preto com seus telhados de eiras e beiras que a chuva lava, lava, lava e não leva o que ficou do sonho de liberdade de Joaquim José, da triste história de amor de Marília e Dirceu.
Ouro Preto de luz e sombra, claro/escuro, mitos e mistérios. Ouro Preto e sua nostalgia barroca.
Ouro Preto do hotel Toffolo onde Bandeira, Drummond, Guignard, Tarsila e vários outros se hospedavam. Ouro Preto do Largo da Alegria, da rua da Glória, do Morro da Forca, do Beco da Mãe Chica, da mina de Chico Rei.
Ouro Preto onde há sempre o que desvendar, principalmente de mim, ainda que eu aqui venha dez, vinte, cem vezes mais...
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Tenho ótimas lembranças de Ouro Preto
ResponderExcluiralgumas até hilárias, como a visão surreal
da Dona Lurdes descendo de bunda as sua ladeiras.
Perdoem, mas eu ri de chorar.
Mas também me lembro da Ouro Preto do encantamento
cheia de histórias em cada esquina.
Beijos Riso.
Linda homenagem a Ouro Preto e a sua versão final e definitiva: "passou para as telas o que esta cidade é: um poema." Justa e justificada.
ResponderExcluirOuro Preto me deixou encantada quando estive lá há muito tempo. A cidade descrita por você renovou meu encanto, Risomar. Lindo texto!
ResponderExcluirNúbia, Mara e Evelyne
ResponderExcluirObrigada. Os comentários de vocês são sempre esperados e bem-vindos!
Beijos nas três