Literário

Vida mais ou menos

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Apresso-me para chegar em casa e ficar livre dos cachorros da rua que cismam com minha canela. Passo por uma criatura que me cumprimenta cheia de cachaça:
- E aí prima, tudo na paz do senhor Jesus?
- Na paz e amém!
- E que o senhor não nos desampare né prima?

Sigo sorrindo e com minha canelinha ilesa, enquanto ele balbucia uma série de xingamentos à sua família. A criatura em questão atende pelo nome de Pedrinho e mais do que isso eu não faço idéia.

Embora esteja sempre bêbado, tem resposta para todas as perguntas:
- Pedrinho cadê sua nega?
- Ihhhh!!! Eu consertei a nega, botei os dentes nela, tinha que ver, mas vagabundo foi mais rápido e me passou a mulher!

Todos no bar dão risadas é quando ele manda mais uma:
- Quem não é ou já foi corno que atire a primeira pedra! Deixa eu me proteger aqui embaixo!

Tem sempre um que fecha a cara e acaba se entregando. Se alguém mente para ele:
- Mentir pra bêbado é pecado primo e você é católico! vai pro inferno heimmmmmm!

Se ele está duro:
- Prima, tem um real pra me ceder? Eu poderia dizer que era pro café, sou bêbado, mas sou honesto é pra completar a cachaça mesmo!

Pedrinho cantando para espantar o banzo: "Sem você não viverei".
- Tá feliz hoje! Viu o passarinho verde?
- Tô cantando pra espantar os invejosos

E assim, ele segue sua vidinha mais ou menos, tirando "sarro" de tudo inclusive de suas próprias tragédias.

• Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário