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A versão oficial
* Por Fernando Yanmar Narciso
Sempre damos ouvidos somente aos que são, hipoteticamente, mais fortes, ricos e poderosos que nós. Se um traficante armado até os dentes apontasse um AR-15 para sua testa e dissesse que a Terra é plana, quem seria você pra discordar dele? Até pegaria uma jangada e navegaria até ela cair da borda terrestre. Afinal, quem tem CENSURADO tem medo.
Sendo assim, para todo o mundo, só a versão dos Todo-poderosos Estados Unidos da América é a que vale pro resto do mundo. Se existe um povo que adora ficar com a pulga atrás da orelha, os americanos são tal povo. Nunca houve um só presidente nos Estados Unidos que não tenha criado guerras ou que não tenha metido o bedelho na guerra dos outros. Vietnamitas que o digam... Americanos disseram para nós que Hitler era um demônio, uma força da natureza que todos deviam combater, e lá fomos nós de capacete na cabeça. Disseram que os comunistas eram o grande mal do século XX, comiam criancinhas e trariam ruína à pureza do planeta, e nós acreditamos. Disseram que Saddam Hussein era o homem mais perigoso do planeta, e que seu regime era o grande fodônico do Oriente Médio, nós acreditamos, e em duas semanas o Iraque já pertencia aos americanos. Disseram e dizem que naquela região só tem fanático religioso e homem-bomba. E ai de quem resolver contestar a visão deles, pois, como diria Anakin Skywalker A.K.A Darth Vader, se você não está conosco, então é nosso inimigo.
Como diz o ditado, uma mentira dita mil vezes acaba se tornando verdade. Mas, embora nem sempre seja uma mentira, é sempre bom conhecer diferentes pontos de vista, além do oficial, para termos nossas próprias opiniões. Sexta-feira passada eu assisti ao clássico filme-propaganda O Triunfo da Vontade, de 1935, relato histórico da 6ª Convenção de Nuremberg, encomendado por Hitler à cineasta estreante Leni Riefenstahl para mostrar como o povo alemão era feliz sob os braços da suástica, e como o país progredia a passos largos após os 16 anos da humilhação que sofreram na 1ª Grande Guerra. Só se vê nas ruas e no campo de batalha arianos jovens, fortes e sorridentes, inclusive alguns portando bigodinhos iguais aos de Hitler, marchando às centenas de milhares, portando seus lustrosos capacetes de metal. Todos nós sabemos o que o fuhrer e seu bando fizeram ao mundo, mas assistindo a tudo pela ótica germânica, até dá vontade de ser nazista. Brincadeirinha...
Impressão semelhante tive no evento que precedeu ao filme de Hitler na Sexta-feira. Atendendo a um convite da minha mãe, fomos juntos ver no Centro Cultural Hermes de Paula, uma amostra de charges e cartuns produzidos por artistas iranianos, escolhidos e apresentados pelo maior chargista do Oriente Médio, o iraniano Massoud Shojai. A conversa foi iniciada pelo cartunista brasileiro Márcio Leite, e chegamos bem na hora, quando estava para se iniciar um bate-papo descontraído entre Shojai e o público. Falando em inglês, teve seus pensamentos mediados por uma intérprete, Carmem, minha ex-professora de espanhol no 2º grau, mas isso não o impediu de mandar um sonoro “boa noite” com sotaque carregado. Sua primeira queixa foi quanto à caricatura estereotipada que os artistas da nossa terra fizeram dele, usando um turbante e montado num camelo, tal qual um beduíno, sendo que nenhum dos três itens existe no Irã. Pelos trabalhos apresentados, logo percebemos que os iranianos são um povo muito contido – também, com um caudilho como o Mister Urânio Ahmadinejad, quem não o seria? – pois, ao contrário das charges brasileiras, elas primeiro nos fazem refletir sobre a vida, depois, esboçar algum sorriso.
Tendo se interessado por desenho ainda na escola, Shojai passou por maus bocados na vida... Ainda jovem, foi incumbido de fotografar a guerra entre Irã e Iraque, quando seu país foi massacrado. Mesmo não sendo um fotógrafo muito experiente, conseguiu retratar todo o horror sofrido por seu povo. Esmagados por tanques de guerra, esfolados vivos, destroçados por bombas e granadas... Ele inclusive foi alvejado por uma arma química. No momento mais emocionante da noite, ele mostrou uma foto muito especial. No deserto, um anônimo pediu que ele batesse sua foto. Ele disse que só o faria se ele fizesse algo importante, no que o pobre homem respondeu “Se eu morresse, você bateria minha foto?”. Comovido, ele bateu uma foto dele, e assim que o fez, o pobre coitado foi bombardeado pelo Iraque e morreu na frente de Shojai. Não é filme, é realidade!
Quer saber? Talvez os americanos tenham razão quanto ao Irã. Nem por 100 reais e uma Fanta Uva eu viveria ali. Homens não podem andar de mãos dadas com esposas nas ruas, homossexualismo é crime, e não se pode falar nas charges ou em qualquer outro tipo de mídia sobre sexo, religião ou sobre o governo do país. Vários cartunistas e chargistas do país tiveram suas carreiras arruinadas ao ousar quebrar essa regra. Por mais que Shojai tenha se esforçado pra disfarçar seus sentimentos reais quanto ao governo de seu país, falando que o Mahmoud Ahmadinejad era um carinha até bem-humorado, o que saía de sua boca não condizia com a expressão dos seus olhos. O tempo todo dava a impressão que ele achava que seu estimado “chefinho” viria do além para agarrar seus pés.
Bom, na falta de uma visão oposta à que todo mundo sabe, que comece a nova guerra, América!
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
* Por Fernando Yanmar Narciso
Sempre damos ouvidos somente aos que são, hipoteticamente, mais fortes, ricos e poderosos que nós. Se um traficante armado até os dentes apontasse um AR-15 para sua testa e dissesse que a Terra é plana, quem seria você pra discordar dele? Até pegaria uma jangada e navegaria até ela cair da borda terrestre. Afinal, quem tem CENSURADO tem medo.
Sendo assim, para todo o mundo, só a versão dos Todo-poderosos Estados Unidos da América é a que vale pro resto do mundo. Se existe um povo que adora ficar com a pulga atrás da orelha, os americanos são tal povo. Nunca houve um só presidente nos Estados Unidos que não tenha criado guerras ou que não tenha metido o bedelho na guerra dos outros. Vietnamitas que o digam... Americanos disseram para nós que Hitler era um demônio, uma força da natureza que todos deviam combater, e lá fomos nós de capacete na cabeça. Disseram que os comunistas eram o grande mal do século XX, comiam criancinhas e trariam ruína à pureza do planeta, e nós acreditamos. Disseram que Saddam Hussein era o homem mais perigoso do planeta, e que seu regime era o grande fodônico do Oriente Médio, nós acreditamos, e em duas semanas o Iraque já pertencia aos americanos. Disseram e dizem que naquela região só tem fanático religioso e homem-bomba. E ai de quem resolver contestar a visão deles, pois, como diria Anakin Skywalker A.K.A Darth Vader, se você não está conosco, então é nosso inimigo.
Como diz o ditado, uma mentira dita mil vezes acaba se tornando verdade. Mas, embora nem sempre seja uma mentira, é sempre bom conhecer diferentes pontos de vista, além do oficial, para termos nossas próprias opiniões. Sexta-feira passada eu assisti ao clássico filme-propaganda O Triunfo da Vontade, de 1935, relato histórico da 6ª Convenção de Nuremberg, encomendado por Hitler à cineasta estreante Leni Riefenstahl para mostrar como o povo alemão era feliz sob os braços da suástica, e como o país progredia a passos largos após os 16 anos da humilhação que sofreram na 1ª Grande Guerra. Só se vê nas ruas e no campo de batalha arianos jovens, fortes e sorridentes, inclusive alguns portando bigodinhos iguais aos de Hitler, marchando às centenas de milhares, portando seus lustrosos capacetes de metal. Todos nós sabemos o que o fuhrer e seu bando fizeram ao mundo, mas assistindo a tudo pela ótica germânica, até dá vontade de ser nazista. Brincadeirinha...
Impressão semelhante tive no evento que precedeu ao filme de Hitler na Sexta-feira. Atendendo a um convite da minha mãe, fomos juntos ver no Centro Cultural Hermes de Paula, uma amostra de charges e cartuns produzidos por artistas iranianos, escolhidos e apresentados pelo maior chargista do Oriente Médio, o iraniano Massoud Shojai. A conversa foi iniciada pelo cartunista brasileiro Márcio Leite, e chegamos bem na hora, quando estava para se iniciar um bate-papo descontraído entre Shojai e o público. Falando em inglês, teve seus pensamentos mediados por uma intérprete, Carmem, minha ex-professora de espanhol no 2º grau, mas isso não o impediu de mandar um sonoro “boa noite” com sotaque carregado. Sua primeira queixa foi quanto à caricatura estereotipada que os artistas da nossa terra fizeram dele, usando um turbante e montado num camelo, tal qual um beduíno, sendo que nenhum dos três itens existe no Irã. Pelos trabalhos apresentados, logo percebemos que os iranianos são um povo muito contido – também, com um caudilho como o Mister Urânio Ahmadinejad, quem não o seria? – pois, ao contrário das charges brasileiras, elas primeiro nos fazem refletir sobre a vida, depois, esboçar algum sorriso.
Tendo se interessado por desenho ainda na escola, Shojai passou por maus bocados na vida... Ainda jovem, foi incumbido de fotografar a guerra entre Irã e Iraque, quando seu país foi massacrado. Mesmo não sendo um fotógrafo muito experiente, conseguiu retratar todo o horror sofrido por seu povo. Esmagados por tanques de guerra, esfolados vivos, destroçados por bombas e granadas... Ele inclusive foi alvejado por uma arma química. No momento mais emocionante da noite, ele mostrou uma foto muito especial. No deserto, um anônimo pediu que ele batesse sua foto. Ele disse que só o faria se ele fizesse algo importante, no que o pobre homem respondeu “Se eu morresse, você bateria minha foto?”. Comovido, ele bateu uma foto dele, e assim que o fez, o pobre coitado foi bombardeado pelo Iraque e morreu na frente de Shojai. Não é filme, é realidade!
Quer saber? Talvez os americanos tenham razão quanto ao Irã. Nem por 100 reais e uma Fanta Uva eu viveria ali. Homens não podem andar de mãos dadas com esposas nas ruas, homossexualismo é crime, e não se pode falar nas charges ou em qualquer outro tipo de mídia sobre sexo, religião ou sobre o governo do país. Vários cartunistas e chargistas do país tiveram suas carreiras arruinadas ao ousar quebrar essa regra. Por mais que Shojai tenha se esforçado pra disfarçar seus sentimentos reais quanto ao governo de seu país, falando que o Mahmoud Ahmadinejad era um carinha até bem-humorado, o que saía de sua boca não condizia com a expressão dos seus olhos. O tempo todo dava a impressão que ele achava que seu estimado “chefinho” viria do além para agarrar seus pés.
Bom, na falta de uma visão oposta à que todo mundo sabe, que comece a nova guerra, América!
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
O pior algoz é aquele que fomenta, alicia
ResponderExcluirseduz e depois destrói sustentado por justificativas políticas pífias e ainda
fica "com cara de bom moço".
Adorei Fernando.
Abraços
Logo após assistir a mostra de humor iraniano em Caricaturas do Irã, vi um PPS mostrando as atrocidades daquela ditadura com torturas diversas, apedrejamentos, enforcamentos, esfolamentos, chibatada em público e tudo de cruel que a mente humana(?) é capaz de por em prática: assustador. Com um regime desses, não é de se estranhar que Shojai não tenha feito nenhuma leve referência não positiva ao seu país. Os iranianos são excepcionais em matéria de cartum. Criar como eles criam com a extremada censura vigente é inacreditável.Vejam nos sites: www.brazilcartoon; www.irancartoon.com.
ResponderExcluirerrata: www.brazilcartoon.com
ResponderExcluirQuanta lucidez. Nem parece que você tem tão pouca idade,Fernando. Muito esclarecedor seu texto.
ResponderExcluirAbraços