

Um personagem sem história
* Por Laís de Castro
Ele era magro feito um alfinete de cabeça e silencioso como uma noite em Alcobaça. Quase nem fazia barulho para andar, tal sua leveza. Sabia que, a todo barulho, corresponde o mesmo tempo de silêncio. Ficava com este lado da moeda.
Quando nasceu pouco chorou e mamou discretamente, sem gula, o leite materno. Foi crescendo junto com o próprio cabelo, já ralo, deixando ver os contornos cranianos, tal a ausência de recheio. Ele era assim. Espelho, semente, planta, chuva e evaporação, água voltando aos rios, rios correndo para o mar.
Um produto da terra que à terra voltaria naturalmente, sem causar ruído. Desfilava sem preconceitos sua postura econômica de gestos e sentimentos. Sabia também que todo nascimento prevê uma morte e que, quando se fecha uma janela num dia de sol, a escuridão fica apenas do lado de dentro, pois a toda escuridão, corresponde o mesmo tempo de luz.
* Jornalista desde os 21 anos, quando estreou na tradicional revista Realidade, trabalhou 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial e outros mais na Azul. Ganhou 3 prêmios Abril, um concurso de contos infantis no Estado do Paraná e é autora do livro de histórias para adultos: “Um Velho Almirante e outros contos”, publicado pelo selo ARX (Siciliano). Atualmente dedica-se apenas à Literatura.
* Por Laís de Castro
Ele era magro feito um alfinete de cabeça e silencioso como uma noite em Alcobaça. Quase nem fazia barulho para andar, tal sua leveza. Sabia que, a todo barulho, corresponde o mesmo tempo de silêncio. Ficava com este lado da moeda.
Quando nasceu pouco chorou e mamou discretamente, sem gula, o leite materno. Foi crescendo junto com o próprio cabelo, já ralo, deixando ver os contornos cranianos, tal a ausência de recheio. Ele era assim. Espelho, semente, planta, chuva e evaporação, água voltando aos rios, rios correndo para o mar.
Um produto da terra que à terra voltaria naturalmente, sem causar ruído. Desfilava sem preconceitos sua postura econômica de gestos e sentimentos. Sabia também que todo nascimento prevê uma morte e que, quando se fecha uma janela num dia de sol, a escuridão fica apenas do lado de dentro, pois a toda escuridão, corresponde o mesmo tempo de luz.
* Jornalista desde os 21 anos, quando estreou na tradicional revista Realidade, trabalhou 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial e outros mais na Azul. Ganhou 3 prêmios Abril, um concurso de contos infantis no Estado do Paraná e é autora do livro de histórias para adultos: “Um Velho Almirante e outros contos”, publicado pelo selo ARX (Siciliano). Atualmente dedica-se apenas à Literatura.
Ter a consciência de sua passagem
ResponderExcluirpela Terra... tendo por únicas
testemunhas suas próprias pegadas...
Belo texto Laís.
Beijos
Lembrei-me de um tio-avô que bem poderia ter sido esse ser magro e sem história. Era tão silencioso e sem paixões, que não andava, deslizava. Tinha uma fazendola que em dezembro produzia tanta manga que se perdia no chão e poderia encher carretas. Quando perguntado sobre as frutas:
ResponderExcluir-Tio, tem muita manga lá?
-Umas manguinhas...