quarta-feira, 2 de dezembro de 2009




Som na caixa!

* Por Fernando Yanmar Narciso

A
música é um reflexo do povo. Horas difíceis sempre foram combustíveis para os grandes gênios da música, que com sua poesia e seu ritmo trazem esperança e alegria às pessoas. Bom, pelo menos costumava ser assim. Nas últimas duas décadas a única palavra de ordem no mundo da música tem sido: Diversão. Se a música dá vontade de sair pulando, não precisa fazer mais nada.

Considero-me uma pessoa eclética quanto à música. Cresci rodeado pela MPB, rock brasileiro, heavy metal e pelos Beatles. Assim como muitas outras pessoas, eu não me conformo com o rumo que a música mundial tomou com a era digital. Outro dia, enquanto eu e meu pai trabalhávamos no AUTOCAD na casa dele, o vizinho da casa de baixo estava tocando Axé Music no último furo. Um festival ininterrupto de imbecilidades. Ia dos clichês básicos do gênero como “me ama, meu amor”, “mexe, mainha” e “empina a bundinha” a sandices absolutas como uma tal de “Dança do Pica- Pau”. Melhor que rir dessas asneiras, só rir dos comentários do meu pai sobre elas. Na verdade, rimos pra não chorar. É inevitável sentir pena dessa geração 2K, que nasceu e se desenvolveu afogada até o pescoço nessa “música”. Vejo todo dia na MTV mulheres que parecem feitas de plástico, favelados americanos posando de bonzões com todo aquele ouro no pescoço, nos dedos e até nos dentes e ídolos aborrecentes estendendo a bandeira do “puritanismo”. Em meio a esse bando de babacas exibicionistas, onde fica a música? E depois ainda vem o músico reclamar dos downloads e da pirataria... O caso é que as pessoas já perceberam como eu já havia dito anteriormente, que música e filmes atuais viraram besteiras tão grandes que ninguém mais quer saber de pagar um centavo por eles. Escrever música hoje se resume a praticamente só uma coisa: Falar de amor. Só isso. Escrever música moderna sem colocar as palavras “amor”, “amar” e “amo” é quase como ir ao Vaticano e não torcer pra ver o Papa tomar um “tropicão”. Até os roqueiros modernos que tocam nas rádios, que supostamente deveriam ser o símbolo do inconformismo e da rebeldia juvenil, só escrevem músicas melosas e insípidas sobre amores desfeitos e beijos. CPM 22 e NxZero não me deixam mentir.

O caso é que, nesses tempos modernos, a palavra “gênio” ganhou uma conotação totalmente diferente. Lugar de gênio e filósofo passou a ser nos laboratórios e nas aulas de filosofia. Qual é a primeira coisa que vem à mente quando aquele seu colega começa a se exibir em sala de aula, e a se achar mais sabido que o professor? Exato, mandar calar a boca e sentar. Os grandes contestadores viraram “reclamões”, e ninguém gosta de ficar perto de quem só reclama de tudo. Diogo Mainardi aprendeu essa do jeito mais difícil... Os grandes nomes da MPB não souberam como evoluir junto com o novo público. Continuam compondo quase do mesmo jeito como compunham na época do amor livre, das torturas e deportações. Basicamente só tocam para o público da velha guarda, e pra adolescentes intelectualóides que gostam de posar de muito cultos.

E nem venham me dizer que não existem mais motivos hoje em dia pra mobilizar as pessoas. Ditadura em si já não existe-pelo menos até o governo conseguir eleger seu próximo candidato-mas ainda há censura, e muita. Basta nos lembrarmos da tentativa ridícula de criar uma lei abafando a liberdade de expressão nos blogs durante o período de eleição. Vão perguntar para Gabriel o Pensador se não existe mais censura. Quem não se lembra de quando ele foi preso e seu disco de “To feliz, matei o presidente” foi confiscado pelo governo? É claro que ele enfiou a mão sem luva dentro do vespeiro, mas não precisavam ter chegado a tanto.

Pensem nas torturas de policiais, nos tiroteios nas favelas, no narcotráfico, na falta de saneamento básico, na bandalheira desenfreada em Brasília, na falta de humanidade e empatia dos nossos políticos, que só querem saber da nossa grana, na violência que já chegou às cidades pequenas, na falta de respeito, na poluição... É material a dar com pau!

Com o governo Lula, houve um crescimento sem precedentes do culto à incultura. Passou a ser motivo de orgulho se dizer pobre e analfabeto, como ele era antes de usar Armani e tomar escocês no Palácio da Alvorada. O país tornou-se um espelho de seu presidente. Se ele gosta de forró mela-cueca, todo mundo gosta. Se ele gosta de “apocalypso”, nós também gostamos. Se ele gosta de funk de sacanagem, nós idem. Era mais fácil nos revoltarmos com a situação do país quando havia filósofos, sociólogos e advogados supostamente mais inteligentes que o povo no poder.

* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Fernando!!!!!!!
    " Apocalypso" é ótimo! Adorei cada palavra
    pena que acabou...
    Se pelo menos algumas dessas músicas não nos obrigassem a repetir erros gramaticais...putz!
    Parabéns!
    beijos

    ResponderExcluir