

Serra qual é o teu mistério?
* Por Seu Pedro
De longe eu a olhava como se ela fosse um morro qualquer, um montueiro desorganizado de matos e pequenas árvores. Por anos olhei a Serra de Palmas de Monte Alto com vulgaridade, não digo desprezo, pois nela sempre reconheci estar um pulmão necessário, principalmente próximo à cidade visualmente pouco arborizada, cercada de asfalto e paralelepípedos por todos os lados. De longe a enxergava, mas não procurava saber se o pulmão estava ameaçado. Para mim era tarefa unicamente das autoridades o combate aos lenhadores e caçadores. Eu, homem da cidade, não deveria me enxerir nas tarefas dos ecologistas, a não ser que fosse chamado para fazer dali surgir alguma reportagem: “Se faltasse oxigênio, o governo que se virasse e importasse tubos de oxigênio e os espalhasse pela cidade”, cheguei um dia pensar.
O homem, e mulheres também, todos nós temos que ter responsabilidades, independente de que nos determinem que a tenhamos. Meu irmão que reside em um balneário, deve ter obrigação com o mar, não sendo necessário ser mergulhador para isto, bastando zelar para que a praia se mantenha limpa, e casualmente falar desta necessidade aos “porcalhões” que fazem das praias um chiqueiro, abandonando restos de comida na areia, garrafas plásticas, pontas de cigarros, se não bastassem as madames exagerarem no uso dos protetores solares, que causam grave danos à vida marítima. Para isto não é necessária movimentação do Ibama, pois hoje entendo que cada um de nós deve ser como um zelador da natureza, pois nela habitamos, e como em nossa casa, também zelar pela gigantesca piscina e pelo jardim da montanha.
A montanha de que aqui falo é a Serra de Monte Alto, que além de pulmão das cidades em seu entorno, é um imenso jardim ainda pouco desbravado. Nele encontramos plantas exóticas, algumas espécies só agora descobertas e ainda a serem catalogadas. Encontramos fartura de pequizeiros, incrivelmente sobreviventes da fúria das usinas de ferro gusa, aço e outros metais transformados pelo calor. O carvão desta árvore gera temperatura de maior intensidade dentro dos fornos. Em Minas Gerais, onde a fiscalização é intensa, a mata fica preservada. Na Bahia, onde ela é relaxada, as árvores são abatidas para servir aos usineiros. E não é falta de denúncias, muitas delas com fotos nos jornais, revistas, sites, emissoras de rádio e televisão. O Ministério Público sabe. Os caminhões carvoeiros cruzam as estradas, só não, quando “para inglês ver” o Ibama, ou outro órgão de competência, faz uma blitz, para mim de mentirinha.
Mas de poucos anos para cá, quando subi a serra, e acompanhei os relatos do professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, professor doutor Joaquim Perfeito da Silva – extremamente empenhado pela serra, pesquisador pós-graduado, ou ainda ao entrevistar a doutora e historiadora Maria Beltrão, passei a me sentir responavel. Não só por denunciar as agressões no jornal que edito, mas em me movimentar para que lá seja em breve um Parque Ecológico preservado. E para isto estou caminhando junto com a ONG Preservação Proteção e Revitalização Integrada e Sustentável da Serra de Monte Alto – PRISMA, presidida pela professora Maria Emília Blanc do Amaral, com sede em Guanambi - Bahia, onde estou voluntário. Vi a Casa de Pedra e ainda o Curral de Pedras estimados em três mil anos. Vi os fósseis da Preguiça Gigante, as dezenas de Inscrições Rupestres provando que ali houve uma pré-civilização de milênios. Vi o Calendário de Pedra, com 365 pedras fincadas no chão, simetricamente dispostas, e as tantas plantas raras e cachoeiras; que de baixo não se enxergam e é preciso subir para ver seus mistérios.
* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Por Seu Pedro
De longe eu a olhava como se ela fosse um morro qualquer, um montueiro desorganizado de matos e pequenas árvores. Por anos olhei a Serra de Palmas de Monte Alto com vulgaridade, não digo desprezo, pois nela sempre reconheci estar um pulmão necessário, principalmente próximo à cidade visualmente pouco arborizada, cercada de asfalto e paralelepípedos por todos os lados. De longe a enxergava, mas não procurava saber se o pulmão estava ameaçado. Para mim era tarefa unicamente das autoridades o combate aos lenhadores e caçadores. Eu, homem da cidade, não deveria me enxerir nas tarefas dos ecologistas, a não ser que fosse chamado para fazer dali surgir alguma reportagem: “Se faltasse oxigênio, o governo que se virasse e importasse tubos de oxigênio e os espalhasse pela cidade”, cheguei um dia pensar.
O homem, e mulheres também, todos nós temos que ter responsabilidades, independente de que nos determinem que a tenhamos. Meu irmão que reside em um balneário, deve ter obrigação com o mar, não sendo necessário ser mergulhador para isto, bastando zelar para que a praia se mantenha limpa, e casualmente falar desta necessidade aos “porcalhões” que fazem das praias um chiqueiro, abandonando restos de comida na areia, garrafas plásticas, pontas de cigarros, se não bastassem as madames exagerarem no uso dos protetores solares, que causam grave danos à vida marítima. Para isto não é necessária movimentação do Ibama, pois hoje entendo que cada um de nós deve ser como um zelador da natureza, pois nela habitamos, e como em nossa casa, também zelar pela gigantesca piscina e pelo jardim da montanha.
A montanha de que aqui falo é a Serra de Monte Alto, que além de pulmão das cidades em seu entorno, é um imenso jardim ainda pouco desbravado. Nele encontramos plantas exóticas, algumas espécies só agora descobertas e ainda a serem catalogadas. Encontramos fartura de pequizeiros, incrivelmente sobreviventes da fúria das usinas de ferro gusa, aço e outros metais transformados pelo calor. O carvão desta árvore gera temperatura de maior intensidade dentro dos fornos. Em Minas Gerais, onde a fiscalização é intensa, a mata fica preservada. Na Bahia, onde ela é relaxada, as árvores são abatidas para servir aos usineiros. E não é falta de denúncias, muitas delas com fotos nos jornais, revistas, sites, emissoras de rádio e televisão. O Ministério Público sabe. Os caminhões carvoeiros cruzam as estradas, só não, quando “para inglês ver” o Ibama, ou outro órgão de competência, faz uma blitz, para mim de mentirinha.
Mas de poucos anos para cá, quando subi a serra, e acompanhei os relatos do professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, professor doutor Joaquim Perfeito da Silva – extremamente empenhado pela serra, pesquisador pós-graduado, ou ainda ao entrevistar a doutora e historiadora Maria Beltrão, passei a me sentir responavel. Não só por denunciar as agressões no jornal que edito, mas em me movimentar para que lá seja em breve um Parque Ecológico preservado. E para isto estou caminhando junto com a ONG Preservação Proteção e Revitalização Integrada e Sustentável da Serra de Monte Alto – PRISMA, presidida pela professora Maria Emília Blanc do Amaral, com sede em Guanambi - Bahia, onde estou voluntário. Vi a Casa de Pedra e ainda o Curral de Pedras estimados em três mil anos. Vi os fósseis da Preguiça Gigante, as dezenas de Inscrições Rupestres provando que ali houve uma pré-civilização de milênios. Vi o Calendário de Pedra, com 365 pedras fincadas no chão, simetricamente dispostas, e as tantas plantas raras e cachoeiras; que de baixo não se enxergam e é preciso subir para ver seus mistérios.
* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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