quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Quem cala consente

Caríssimos leitores, boa tarde. O redator profissional (não necessariamente escritor), assume um baita desafio ao abraçar essa profissão. Tem que escrever sempre, e bem, e com rigorosa correção, caso queira garantir seu sustento. Nem sempre, todavia, está com idéias inovadoras.
Há dias em que não gostaria de escrever. Em outros, não consegue se concentrar, assoberbado por problemas de toda a sorte, desde os econômicos aos familiares. Mas não pode fugir da raia. Tem que escrever (pois esse é o seu ganha pão), sempre, e bem, e com rigorosa correção.
Quando lhe facultam o direito de escolher os assuntos a abordar, o que é raro, as coisas ficam mais fáceis. Quando não... Pior é quando precisa fazer mil variações em torno do mesmíssimo tema e exigem-lhe que ainda assim seja original e nunca se repita. Quem consegue, projeta-se como bom redator e assegura o emprego por anos a fio. Quem não consegue... não tem vida longa.
Nesse ponto, o escritor leva vantagem em relação a quem, embora redator, não o seja. Pode dar asas à imaginação e mandar a objetividade às favas. E sai-se relativamente bem, mesmo que tenha que escrever “n” textos sobre o mesmíssimo tema. E mais fácil se torna a tarefa quando o assunto é dos que o empolguem. É o caso deste Editor em relação à Literatura.
Experimentem escrever, já não digo 240, mas reles dez textos originais sobre um só assunto. Em três tempos, por maior que seja sua capacidade de inventar, estarão, fatalmente, se repetindo. Não há tema que seja inesgotável e nem conhecimento e cultura que sejam infinitos. Logo, logo, seu texto se tornará monótono, insosso, repetitivo.
Pois é, este é o desafio deste Editor diariamente. Ou seja, redigir, todos os dias, acorde como acordar, um texto sempre original sobre Literatura para “ancorar” cada edição do Literário. Ainda se contasse com tempo para isso, vá lá. A tarefa não seria tão árdua. Contudo, não conta com esse “luxo”. Precisa ser ágil, para não privar o leitor das novidades do dia. Conta com, no máximo, quinze minutos para a redação, revisão e edição do editorial na página do Literário. E isso há já 240 dias!
Confesso que amiúde tenho a tentação de abrir mão dessa tarefa e mandar tudo às favas. Afinal... não conto, sequer, com a generosidade de um mísero comentário neste espaço na maior parte dos dias. Aliás, meus “comentadores” assíduos me abandonaram, também, na minha coluna “Ladeira da Memória”, que a cada semana, fica mais às moscas. Até os amigos, que com muita regularidade, “batiam ponto”, semanalmente, deixaram de fazê-lo. Fico perguntando aos meus botões: por que?
Será que fiquei chato e repetitivo? Será que estou afundando na areia movediça do ridículo, sem que me dê conta? Será que sou tão antipático que, em quase quatro anos, não conquistei um único admirador da minha arte? Não sei!
Creio ter encontrado (mas não tenho certeza), até casualmente, uma explicação pelo menos plausível para isso em um texto de Cesare Pavese. O escritor italiano constatou: “Quando lemos, não procuramos idéias novas, mas pensamentos que já nos passaram pela mente e que adquirem, na página impressa, o selo da confirmação”.
É isso! Meu provável erro é estar sempre em busca do supostamente novo, do original, do raramente pensado. É provável, pois, que nenhum dos quase 30 mil leitores que já acessaram o Literário tenha se identificado com nenhuma das idéias que apresentei, que não são, pelo visto, as mesmas (ou sequer parecidas) que tiveram. Meu texto, portanto, não as “chancelou”. Não lhes imprimiu o selo da identificação.
Se for isso... por que não se manifestam? Por que não me contestam, não me xingam, não discutem comigo, não me encostam contra a parede? Como todo escritor, também sou bastante vaidoso. Já fiz palestra para um público de 1.500 pessoas e foi aplaudido de pé, por mais de cinco minutos.
Aqui, porém, num espaço cuja sobrevivência pode não depender de mim, mas deve muito à minha teimosia, nada. Apenas um constrangedor silêncio. Silêncio esse que pode, a qualquer momento, me levar à decisão lógica de bater em retirada e ficar quieto cá no meu canto, sem o risco dessa perigosa (e me parece inútil) exposição diária. Ou será que o devo interpretar o fato da ausência de manifestações como anuência ao que aqui exponho? Pode ser! Afinal.... quem cala... consente.

Boa leitura.

O Editor.

11 comentários:

  1. Caro Pedro,
    encontrei nas palavras acima, muito bem escritas - sem favor algum, o tal "selo da conformidade". Perdi a conta de quantas vezes me passou pela cabeca parar de escrever. Mas o Literario é sempre um estimulo...

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  2. Pedro,
    Temos que levar em conta que são seis textos por dia. Nem sempre temos oportunidade de comentar todos.
    A maioria gosta de ler sem comentar.

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  3. Caro Pedro, concordo com a Celamar. Também acho que muitas pessoas preferem ler e não comentar. No meu caso, confesso, muitas vezes leio e não comento por causa da correria do cotidiano. Uma pena.
    Entendo seu ponto de vista, também sinto falta de mais retorno, mas estou devendo muitos comentários!
    Vamos prosseguir, não pare!
    Abraços!

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  4. Protestar com veemência é sinal de muita energia e vibração. O tema repete-se, mas a abordagem não. Posso dizer que li todos os editoriais e poucas vezes os achei chatos. Acredito que mesmo sem tempo é preciso pelo menos uma visita ao Google para garantir certeza em alguns pontos. No geral, acho que a sua escrita sai pouco depois do pensamento. Fazendo uma interface com a sua teimosia estou aqui, comentando e dando meus palpites, mesmo no meio do deserto. Somos dois estóicos Pedro.

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  5. O que aconteceu com o EDITOR? Depois do desabafo ele desapareceu e não veio hoje atualizar o Literário. Seria falta de conexão? Ele desistiu de nós? Alguém sabe de alguma coisa? Pedro, onde está você?

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  6. Também estou preocupado, Mara. Espero que o editor tenha ido a uma festa, bebido um pouco mais de chope. Espero...
    Pedro, cadê você?

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  7. Mara e Urariano,
    Também gostaria de ter notícias.
    Talvez um problema na Internet.
    Vírus no computador . Muita chuva.
    Quem sabe ?
    Assim espero.
    Amanhã ele estará de volta.
    Acredito.
    Beijão !

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  8. Meu palpite é que o blog acabou ... Ou foi a vez de o editor silenciar para sentirmos o incômodo da ausência ... Uhm, pode ser, hein!

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  9. Celamar e Mara: Pedro é profunda e rigorosamente profissional. Se o computador dele estivesse em pane, Pedro iria a uma Lan. Se chovesse raios, além de granizos e pedras, se ele estivesse ilhado, enviaria mensagens por meio de terceiros.

    Se não for algo muito, mas muito grave, a melhor hipótese é a de Daniel, a de que o editor fez uma pausa para sentir a leitura do que escreve.

    Mas aí já foi lá além da conta. Pedro, deixe de brincadeira. Diga hi, olá, alô ou oi.

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  10. Daniel, Celamar e Urariano, tudo resolvido: pane no provedor. Ainda bem!

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