

Cada um com seu “carma”
* Seu Pedro
O conceito de “carma” existe em muitas culturas, especialmente por toda a Ásia, e é freqüentemente incompreendido. Em nosso Brasil, parece-me que os mineirinhos e os paulistas do interior disputam entre eles que tem mais “carma”, pois se vamos atravessar a Rodovia Fernão Dias fora da passarela, lá vem um ou outro pedindo “carma”. Se vamos usar nosso livre arbítrio, tentado o suicídio, por exemplo, lá vem o pedido de “carma”. Igualmente em véspera de eleições: “carma”, escolha bem o candidato. Mas deixando de lado o humor, afinal o que é “carma”?
É um termo quase sempre usado para convencer os desprivilegiados da sociedade a aceitar suas situações desafortunadas na vida, como sendo decorrentes de sua própria criação. Ao aceitar seus destinos predeterminados, eles se resignarão às disparidades sociais. Em sânscrito, “carma” significa ato, oração Originalmente isto significa trabalho ou função e é relacionado a palavras fazer ou produzir. No budismo, “carma” refere-se às nossas ações, ou causas, criadas através de nossos pensamentos, palavras e comportamento.
Mas se assim fosse, não haveria razão de se prender, julgar e fazer cumprir pena a um seqüestrador, por exemplo. O jovem tresloucado Lindenberg estaria absolvido de seu crime, pois morrer teria sido o “carma” de Eloá. E muitos, no episódio do mais longo seqüestro no cenário policial brasileiro, curiosos que se amontoavam e não percebiam que mais atrapalhavam do que somavam, e volta e meia atribuíam ao “carma” daquela adolescente o sofrimento pelo qual estava passando. Dentro do conceito budista de “isto acontece por nossos pensamentos, palavras e comportamentos”, há ai uma explicação.
No comportamento de Eloá, extraindo do noticiário o que presta, verifica-se que a menina agiu de uma forma nada convencional para sua idade, em que a maioria ainda não se esqueceu das bonecas. Dizem que o fruto que demora a amadurecer demora mais a apodrecer. Eloá madureceu rápido e, como em um flash, passou um curto espaço de tempo, em que viveu infância, adolescência e juventude. Não envelheceu. Não caiu do galho como as frutas que já estão no ponto. Derrubaram-na, com um tiro, a partir da insana idéia de Lindenberg, de que tudo era seu.
A imprensa, ávida em oferecer emoções aos telespectadores, só faltou colocar no ar comerciais criados pelo marketing, especialmente para o momento: “Estamos transmitindo diretamente, por oferecimento da Funerária Caminho do Céu!”. Isto poderia acontecer se o seqüestro demorasse mais dias. Como se o “carma” dos telespectadores fosse ouvir tanta besteira, elas vieram em profusão. Além do que, a imprensa, com tantas entrevistas ao vivo através do celular de Lindenberg, fez com que ele se sentisse um super-herói. Mas, trocando em miúdos, o final trágico: dizem que ocorreu por ter faltado “carma” aos policiais, que invadiram precipitadamente o apartamento.
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Seu Pedro
O conceito de “carma” existe em muitas culturas, especialmente por toda a Ásia, e é freqüentemente incompreendido. Em nosso Brasil, parece-me que os mineirinhos e os paulistas do interior disputam entre eles que tem mais “carma”, pois se vamos atravessar a Rodovia Fernão Dias fora da passarela, lá vem um ou outro pedindo “carma”. Se vamos usar nosso livre arbítrio, tentado o suicídio, por exemplo, lá vem o pedido de “carma”. Igualmente em véspera de eleições: “carma”, escolha bem o candidato. Mas deixando de lado o humor, afinal o que é “carma”?
É um termo quase sempre usado para convencer os desprivilegiados da sociedade a aceitar suas situações desafortunadas na vida, como sendo decorrentes de sua própria criação. Ao aceitar seus destinos predeterminados, eles se resignarão às disparidades sociais. Em sânscrito, “carma” significa ato, oração Originalmente isto significa trabalho ou função e é relacionado a palavras fazer ou produzir. No budismo, “carma” refere-se às nossas ações, ou causas, criadas através de nossos pensamentos, palavras e comportamento.
Mas se assim fosse, não haveria razão de se prender, julgar e fazer cumprir pena a um seqüestrador, por exemplo. O jovem tresloucado Lindenberg estaria absolvido de seu crime, pois morrer teria sido o “carma” de Eloá. E muitos, no episódio do mais longo seqüestro no cenário policial brasileiro, curiosos que se amontoavam e não percebiam que mais atrapalhavam do que somavam, e volta e meia atribuíam ao “carma” daquela adolescente o sofrimento pelo qual estava passando. Dentro do conceito budista de “isto acontece por nossos pensamentos, palavras e comportamentos”, há ai uma explicação.
No comportamento de Eloá, extraindo do noticiário o que presta, verifica-se que a menina agiu de uma forma nada convencional para sua idade, em que a maioria ainda não se esqueceu das bonecas. Dizem que o fruto que demora a amadurecer demora mais a apodrecer. Eloá madureceu rápido e, como em um flash, passou um curto espaço de tempo, em que viveu infância, adolescência e juventude. Não envelheceu. Não caiu do galho como as frutas que já estão no ponto. Derrubaram-na, com um tiro, a partir da insana idéia de Lindenberg, de que tudo era seu.
A imprensa, ávida em oferecer emoções aos telespectadores, só faltou colocar no ar comerciais criados pelo marketing, especialmente para o momento: “Estamos transmitindo diretamente, por oferecimento da Funerária Caminho do Céu!”. Isto poderia acontecer se o seqüestro demorasse mais dias. Como se o “carma” dos telespectadores fosse ouvir tanta besteira, elas vieram em profusão. Além do que, a imprensa, com tantas entrevistas ao vivo através do celular de Lindenberg, fez com que ele se sentisse um super-herói. Mas, trocando em miúdos, o final trágico: dizem que ocorreu por ter faltado “carma” aos policiais, que invadiram precipitadamente o apartamento.
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
A tragédia de menina Eloá não permite brincaddeiras com o seu destino. Não achei de bom gosto debochar disso.
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