Palavras
ao vento
*
Por Eduardo Calderón Lugones
O
poeta vê o que nossos sentidos incrédulos não percebem.
Distingue
se a montanha dormiu ou está velando sobre o
povoado.
Reconhece as diferentes vozes do vento e de onde procedem.
Assim, a voz aguda que faz gemer o campo alagado.
A que arranca toadas das pedras do caminho.
A que canta entre as altas árvores e nos traz umas folhas
que faziam parte de sua notação musical.
A que passa pelas aberturas dos monte, enfurecendo-se
ao mutilar-se nas arestas das rochas.
A que nos traz uma tíbia fragrância por ter passeado
primeiro no horto de limoeiros e tamarindos.
povoado.
Reconhece as diferentes vozes do vento e de onde procedem.
Assim, a voz aguda que faz gemer o campo alagado.
A que arranca toadas das pedras do caminho.
A que canta entre as altas árvores e nos traz umas folhas
que faziam parte de sua notação musical.
A que passa pelas aberturas dos monte, enfurecendo-se
ao mutilar-se nas arestas das rochas.
A que nos traz uma tíbia fragrância por ter passeado
primeiro no horto de limoeiros e tamarindos.
***
O
vento toca sinos atendendo as andorinhas
do beiral da igreja, para despertá-las bem cedo.
Guarda nas cordas das flautas andinas o tema da melodia que
os sicuris** vão estrear na próxima festa.
Sopra o fogão ajudando a acender o fogo dos ponchos noturnais.
E se diverte fazendo voar em espiral meu chapéu.
Também fez voar uma vez uma telha que rompeu a cabeça
de um inimigo meu.
do beiral da igreja, para despertá-las bem cedo.
Guarda nas cordas das flautas andinas o tema da melodia que
os sicuris** vão estrear na próxima festa.
Sopra o fogão ajudando a acender o fogo dos ponchos noturnais.
E se diverte fazendo voar em espiral meu chapéu.
Também fez voar uma vez uma telha que rompeu a cabeça
de um inimigo meu.
**dança
tradicional andina.
***
O
vento, lamuriante, lambe e golpeia as portas das casas
do povoado. Ai do que abre condoído a porta de casa!
vai pegar um resfriado, e tossirá a noite toda.
E sonhará com um desfile hirsuto e agressivo de surazos***, de
ventos da cordilheira e altiplanos, estepes e desertos.
E verá o deus Eolo demonstrando sua magnífica condição de
soprador de nuvens, com as pistas inchadas como os
dedos que tocam tubas e baixões.****
do povoado. Ai do que abre condoído a porta de casa!
vai pegar um resfriado, e tossirá a noite toda.
E sonhará com um desfile hirsuto e agressivo de surazos***, de
ventos da cordilheira e altiplanos, estepes e desertos.
E verá o deus Eolo demonstrando sua magnífica condição de
soprador de nuvens, com as pistas inchadas como os
dedos que tocam tubas e baixões.****
***surazo: ar polar na Bolivia.
****
instrumento musical de palheta e sopro de som baixo.
***
Sentirá
em seu pesadelo o uivar de lobos e temporais na meseta
mais fria do mais distante setentrião da terra.
Apenas uma tênue claridade, entrando pela janela, convencerá
que já se foi o vento a dormir não resta mais que o
frescor da brisa com que anuncia a chegada do
alvorecer.
mais fria do mais distante setentrião da terra.
Apenas uma tênue claridade, entrando pela janela, convencerá
que já se foi o vento a dormir não resta mais que o
frescor da brisa com que anuncia a chegada do
alvorecer.
* Escritor,
pintor, músico e
compositor boliviano. Professor
da
Escola
Normal de Sucre. Docente do
Conservatório
de Música de La Paz. Primeiro
violino
da Orquestra
Sinfônica
Nacional. Diretor da Biblioteca Municipal. Como pintor aquarelista,
realizou
uma
exposição
em
1947.
Nenhum comentário:
Postar um comentário