A
adoção de pseudônimo
A
adoção de um pseudônimo, a pretexto de que o nome com que a pessoa
foi registrada é complicado, ou não sonoro, ou de difícil
memorização, ou por outro motivo qualquer, é questão
controvertida, contudo considerada normal. É uma opção pessoal e
não condeno e nem critico quem faz isso. Da minha parte... não
faria, como nunca fiz isso. Já
escrevi a propósito, mas não há mal algum em reiterar.
Quando
iniciei minha carreira no rádio, lá pelos idos de 1961,
sugeriram-me que adotasse um pseudônimo. Argumentaram que Pedro
Bondaczuk era um nome complicado de se pronunciar e, principalmente,
de se memorizar. Recusei. Sempre gostei da forma como fui registrado
e jamais me passou. sequer remotamente, pela cabeça mudá-la. No
princípio, outros locutores se enrolavam todos quando tinham que me
anunciar. Os ouvintes também. Com o tempo, todavia, todos se
acostumaram e meu nome de batismo acabou se revelando tão útil e
comum, como o mais criativo dos pseudônimos.
Não
defendo e nem me oponho, todavia, a quem resolve querer ficar
conhecido por outra denominação, que não a que seus pais lhe
atribuíram. Cada qual sabe onde o sapato lhe aperta o pé. Só
reitero que eu nunca fiz isso e jamais faria. Não vejo utilidade
prática nisso. Este preâmbulo um tanto extenso – que em
jornalismo recebe o pitoresco rótulo de “nariz de cera” – vem
a propósito de uma declaração da atriz e escritora norte-americana
Joanna Barnes, em entrevista publicada em 1985, a propósito de sua
então recém-lançada novela “Silverwood”, que se propunha a
narrar, de forma ficcional, histórias que ela assegurou serem
verídicas ocorridas no mundo do cinema, mais especificamente, em
Hollywood.
Ela
declarou, na oportunidade, a propósito: “Vocês ficariam surpresos
com o número de atores e atrizes que mudam o nome e seus
antecedentes de família”. Quanto à adoção de pseudônimos, como
já afirmei, não aplaudo e nem condeno. Mas quanto à segunda parte
da sua declaração... Repudio com veemência. “Inventar” toda
uma biografia, rigorosamente fictícia, provavelmente por “vergonha”
da sua origem e da sua família é de uma desonestidade à toda
prova. É, antes e acima de tudo, grande mentira. E não consigo
justificar e muito menos apoiar e aplaudir o mentiroso (ou mentirosa,
quando é o caso), a nenhum pretexto.
Mesmo
o fato de alguns artistas (ou atletas, ou escritores, ou cantores, ou
seja lá quem for) mudarem de nome, por razões que só a eles
compete explicar, tão logo assinam o primeiro contrato profissional,
é visto com certa suspeita por alguns. Também não os critico. É
como se essas pessoas tivessem vergonha da profissão que escolheram
e queiram se despersonalizar. Ou que tivessem algo de escabroso do
passado para esconder. Claro que procedem dessa forma não por esse
motivo. Geralmente fazem-no por questão de “marketing pessoal”
ou algo que o valha.
Até
certo ponto esse procedimento se justifica, embora, reitero, jamais
recorreria a ele para iniciar e desenvolver uma carreira. Mas...
Acompanhem meu raciocínio. Se fosse anunciada amanhã a exibição
de um filme estrelado, por exemplo, por Marion Morrison, um western
norte-americano, cheio de tiros e pancadaria, você se interessaria
por ele motivado apenas pelo nome do astro principal? Dificilmente.
Arrisco-me a dizer que não, por maior que fosse a publicidade em
torno dessa produção.
Tudo,
porém, mudaria de figura se em vez do nome real do referido artista
se enunciasse o pseudônimo pelo qual se popularizou e se consagrou:
John Wayne. Outro exemplo na mesma linha? Você conhece, por exemplo,
a dupla de humoristas de Hollywood Joseph Levitch e Dino Crocetti?
Não conhece? Os dois são, para você, ilustres desconhecidos? Pois
lhe asseguro que não são. Esses dois são, nada mais nada menos,
que Jerry Lewis e Dean Martin.
O
leitor já ouviu falar, alguma vez, do “grande ator” Allen
Stewart Konigsberg? Certamente que sim. Trata-se do genial Woody
Allen, que tem encantado plateias
do mundo todo com seu humor refinado. Alguém que soubesse que o
filme “O anjo azul” tinha por estrela a atriz Magdalene Von Losch
jamais iria ligar esse nome ao de Marlene Dietrich, que é como a
atriz se consagrou. Nem assistiria ao “Frankenstein”, ou a
qualquer outro filme de terror cujos personagens aterrorizantes
fossem representados por um obscuro William Henry Pratt. Tudo mudaria
de figura, porém, se fosse informado que se trata do ator Boris
Karloff. Tony Curtiss, por exemplo, foi batizado como Bernie
Schwartz, assim como Richard Burton chama-se Richard Jenkins; Maria
Callas, Cecília Kalogeropoulos; Ava Gadner, Lucy Johnson e Fred
Astaire, Frederick Austerlitz.
Por
que os artistas mudam seus nomes? Seria para esconder algo obscuro ou
delituoso ou vergonhoso e inconfessável em seu passado? Seria para
que os amigos seus e de sua família não os identificassem e não
revelassem podres de sua vida pregressa? No passado, pode até ser
que a adoção de pseudônimos fosse por esses motivos (nunca se
sabe). Mas no presente, tudo é uma questão de “marketing” . De
“marketing pessoal”. De mera tentativa de “vender” bem um
nome que seja mais “palatável”, ou seja, fácil de ser guardado
na memória. Você concorda com isso? Acha que é uma providência
relevante que facilite o sucesso e a fama? Eu não acho!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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