Censura
é intolerável
A
arte – e por extensão, a literatura – não comporta nenhum tipo
de censura, não importa se do Estado, da igreja ou de qualquer outra
entidade ou organização social. Tem que ser livre, espontânea,
solta e natural, para ter validade. Caso contrário... Aliás não
concordo que alguém, seja quem for, pessoa ou entidade ou
principalmente governo, censure o que quer que seja, em nenhum tempo
e em nenhum lugar. Cada indivíduo sabe o que mais lhe apraz ou
melhor lhe convém. Prescinde desse tipo de “tutela”. E se não
sabe... a vida se encarregará de lhe ensinar, posto que talvez da
forma mais difícil.
Por
se tratar de manifestação de intolerância, a censura é
absolutamente intolerável a qualquer pretexto. A autêntica
democracia, o Estado de Direito legítimo e que mereça de fato essa
designação, têm isso até como axioma. Ou seja, a liberdade de
expressão e de manifestação de ideias
é e deve ser sempre inviolável e intocável.
Estas
considerações vêm a propósito da informação (isso,
em 2011) de que o
Ministério da Cultura (cultura?) do Irã decidiu censurar todos os
livros do escritor brasileiro campeão de vendas no mundo (já vendeu
mais de 300 milhões de exemplares em cerca de 150 países) Paulo
Coelho e proibi-los aos iranianos. A pretexto de quê? Ninguém
explicou. Pudera! É inexplicável!
Quando
os aiatolás xiitas proibiram o romance “Os versículos satânicos”,
de Salman Rushdie, em meados dos anos 90 do século XX, havia a
alegação de que este era ofensivo à fé islâmica. Não era, mas
ficou assente que sim. O escritor britânico, de origem indiana,
comeu o pão que o diabo amassou naquela oportunidade. Teve que se
esconder por muito tempo, como se fosse um foragido da justiça, e
por anos, para escapar à fúria dos fanáticos e paranoicos,
para não ser assassinado por algum imbecil qualquer, por algum doido
varrido, que achasse que estaria enaltecendo e prestando relevante
serviço à sua religião com esse ato homicida.
Mas,
e os livros de Paulo Coelho? Não conheço um único deles que faça
a menor citação desairosa à fé islâmica, majoritária no Irã.
Então por que essa atitude intempestiva e intolerável? Conheço
muito intelectual que torce o nariz à simples menção desse
escritor. São dos tais que afirmam, do alto da sua arrogância: “não
li e não gostei”. Mas duvido que mesmo estes pedantes
preconceituosos concordem com a decisão do Ministério de Cultura
(cultura?) iraniano de censurar seus livros.
Mesmo
que neles houvesse alguma crítica, alguma observação que pudesse
ser interpretada como ofensiva ou desairosa (que, reitero, não há)
ao islamismo, eu já seria visceralmente contrário à censura. Sem
haver, então... fico não apenas pasmo, mas principalmente possesso
com essa manifestação estúpida de intolerância, fanatismo,
preconceito e ignorância. E, sobretudo, de arbitrariedade.
Podemos
analisar a atitude do governo iraniano sob os mais variados aspectos,
do político ao cultural, e em todos ela se mostrará desastrada, não
diplomática, incoerente e sem sentido para um país cuja imagem no
mundo desde a queda do xá Rheza Pahlevi, em 1979, não é das
melhores e que se degrada, se deteriora e piora, infelizmente, mais e
mais, dia a dia.
Pergunto
a quem se habilite a tentar responder e sair, dessa forma, em defesa
dos tais censores: quem está habilitado a censurar o que quer que
seja e onde? Quem é o árbitro das ações e ideias,
que possa dizer, com segurança e certeza, que esta é positiva e
construtiva e que, portanto, pode ser veiculada e que aquela é
nociva, imoral e degradante e cuja divulgação tem que ser impedida
a todo o custo?
Quem
é esse sujeito onisciente e genial, de moral ilibada, impoluto e
incorruptível, e que tem tamanho poder? E quem lhe concedeu tal
prerrogativa? Quem está acima do bem e do mal para ter esse direito
de coação sobre toda uma população de um país? Claro que
ninguém!!! Absolutamente ninguém!
Paulo
Coelho já havia vendido,
de 1998 a 2011,
seis milhões de livros no Irã. Hoje
é impossível de saber quantos mais vendeu.
O que foi
feito desses exemplares vendidos,
ora censurados? Foram
recolhidos e incinerados? E quem se recusou
a entregá-los, o que aconteceu
com ele? Seus
proprietários foram,
pelo menos, indenizados (afinal, pagaram pelos livros quando as
vendas estavam liberadas)? Tudo isso ficou
no ar.
Vocês
não acham estranho que em pleno século XXI, tida e havida como a
era da globalização, com a fartura de meios de informação e
comunicação, ainda subsista esse tipo de comportamento? De que
adianta censurar e proibir a venda dos livros de Paulo Coelho no
país? A proibição tende a ser um baita tiro pela culatra. Deve
ter despertado a
curiosidade até de quem, normalmente, não leria a obra desse
escritor. Ademais, há a internet... Enfim...
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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