Emoção e risco caracterizam decisões
O ato de
decidir representa uma escolha entre dois ou mais caminhos, todos
aparentemente bons, para se atingir um determinado objetivo.
Trata-se, pois, de uma escolha, que fatalmente vai redundar em alguma
consequência (já que é para isso que ela é feita) que pode ser
positiva, negativa ou até desastrosa.
Por
maior preparo que um administrador tenha (pois essa função implica
sempre em decisões das mais variadas naturezas e graus de
importância), por mais informações de que disponha e por mais
rigorosamente exatos que esses dados possam ser, há sempre a emoção
do risco envolvida. Pode ser comparada com um jogo, por exemplo. E,
em certo aspecto, de fato é.
Afinal,
aquilo que viermos a decidir vai afetar, de uma forma ou outra,
pessoas e/ou empresas. Envolverá um ou mais indivíduos (em alguns
casos, milhões deles, quando se tratar, por exemplo, de um
presidente da República, de um rei ou de um primeiro-ministro, ou
até mais de um bilhão, se se tratar da China), que podem agir, ou
deixar de agir conforme o administrador esperava.
Por
isso, Ernest Dichter, no livro “Espelho, Espelho Meu...Existe
Gerente Mais Eficaz do que Eu?” (Editora McGraw Hill) assinala
que, decidir é, de certa forma, “representar o papel de Deus”.
Afinal, os resultados de uma decisão, seja de que caráter for
(pessoal, empresarial, política, econômica, militar etc.) somente
virão num futuro variável, mediato ou imediato, não importa. Mas a
consequência só vai acontecer “depois” da tomada da decisão.
Por isso, em certa medida, ela é uma antecipação do amanhã.
Adolf
Hitler, quando decidiu romper o pacto de não agressão com a União
Soviética e invadir esse país até então aliado, em 1940, tinha,
evidentemente, em mente um objetivo. O principal talvez fosse o de
garantir livre acesso às fontes de energia naturais do território
soviético, sem nenhum ônus econômico.
Claro
que para decidir sobre a invasão teve que pesar os prós e os
contras, os riscos e as vantagens. Precisou, por exemplo, avaliar os
lucros que obteria, em caso de sucesso, e os prejuízos advindos de
um fracasso. Deve ter analisado uma série de informações colhidas
por seus serviços de inteligência. O que o ditador certamente não
contava, todavia, era com um fator absolutamente subjetivo: o grau de
patriotismo do povo soviético.
Esse
amor à pátria, colocado acima de interesses pessoais e de segurança
individual e até da conservação da vida determinou que a URSS,
aparentemente batida ao ser surpreendida com a fulminante ação
militar nazista, se desdobrasse, se superasse e lograsse expulsar o
invasor, aparentemente mais forte do ponto de vista militar.
E
mais, que essa força subjetiva, essa capacidade de resistência e de
sacrifício pessoal e coletiva determinasse a derrota da Alemanha de
Hitler na guerra. Não se pode negar que o rolo compressor soviético
foi determinante para a vitória dos aliados contra o nazismo.
O
ditador alemão pode (e deve) ter contado com informações
absolutamente corretas e confiáveis. Dispôs-se, logicamente, a
correr riscos com a sua decisão. Todavia, não teve a capacidade de
antecipar com correção o futuro, os resultados que poderiam advir
(e que advieram) do que decidiu. Não se preveniu para as
consequências de um eventual fracasso. Portanto, tomou a decisão
errada.
O
ex-menino de ouro da IBM norte-americana, Michael J. Kami, em seu
livro “Um...Dois...Três...Ação!!! Momento de Decisão”
(Editora McGraw Hill), assinalou que ao tomarmos alguma decisão,
jamais devemos fazer “previsões”, mas apenas “suposições”.
Como
decidir é antecipar o futuro (nem que essa antecipação se limite a
segundos), é indispensável, antes desse ato, fazermos criteriosa
avaliação das suas possíveis (ou prováveis) consequências. E
pesarmos se elas são favoráveis, neutras ou pelo menos suportáveis
e se justificam a decisão que iremos tomar.
Mas
Kami alerta para a imprevisibilidade do mundo atual, em decorrência
de inúmeros fatores. A explosão demográfica mundial (notadamente
no Terceiro Mundo), a complexidade do sistema financeiro
internacional (com o seu jogo de variados interesses) e a vertiginosa
evolução tecnológica, entre outras variáveis, tornam praticamente
impossível que se prevejam, com razoável margem de acerto, os
acontecimentos das próximas horas, quanto mais os dos próximos
dias, meses ou anos.
Por
isso, Kami adverte: “Consultar a bola de cristal é inútil em um
mundo imprevisível. Tradicionalmente, os diretores executivos exigem
sólidas previsões de seus administradores. ‘Quero números’,
dizem. Na era da imprevisibilidade, isso não faz sentido”. E não
faz mesmo!
Ernest
Dichter assinala que o estilo de decisão de uma pessoa reflete sua
personalidade. Destaca que muitos, ao decidirem, são influenciados
por fatores inconscientes. Entre estes menciona, por exemplo, o fato
de simpatizarem ou não com indivíduos envolvidos no que estiverem
decidindo ou em relação aos quais as decisões estiverem sendo
tomadas ou sobre as quais elas irão pesar.
Alguns
chamam esse fator de “intuição”. Há ocasiões em que esse
fator subjetivo funciona às mil maravilhas. Mas é uma atitude
lotérica em demasia. Em geral, podemos identificar três tipos
básicos de estilos de decisão: o emotivo, o intempestivo e o
racional.
Dichter
destaca administradores que identifica como “especulativos”, os
que, ao tomarem alguma decisão, literalmente “saltam no
desconhecido”. São os que não têm a mínima informação a
respeito do que estão decidindo. Ou que, embora bem informados,
carecem de somente um dos dados do problema que tentam resolver, mas
que acaba sendo o mais importante. Esses administradores decidem
exclusivamente por palpite.
Neste
caso se enquadram, por exemplo, os que arriscam altíssimos
investimentos em determinado produto, sem ao menos saber se o mercado
o quer ou se deseja da forma com que eles o desenvolveram e não mais
(ou menos) sofisticado.
Dichter
diz o seguinte a respeito desse tipo de administradores: “Eles
justificam esse padrão de comportamento como o mais sensato em
períodos de incerteza e chamam essa abordagem de ‘acreditar no
crescimento’ ou ‘pensamento positivo’, ao invés de utilizar
seu nome real: ‘aproveitando as chances’. Aliás, aproveitar uma
oportunidade não somente não é algo ruim, como pode ser até muito
desejável. O que é indispensável que se faça, no entanto, é ter
certeza que ela de fato existe. Que a chance de sucesso é real e não
somente aparente”.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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