Maio,
1968
*
Por Emanuel Medeiros Vieira
“O
que devemos é apressar o fim do inverno de nossa infelicidade,
parafraseando a famosa frase de Shakespeare no “Ricardo 3”, e
fazer surgir uma nova primavera”.(Renato
Janine Ribeiro)
(Em
10 de maio de 1968, estudantes ocupavam a Sorbonne).
Desejávamos
soprar a poeira da eternidade.
Seja
realista: exija o impossível, passeatas, cassetetes, éramos
eternos.
Comíamos
o pão de cada dia com a flor da utopia na lapela.
“A
imaginação no poder”, mas nossos amigos não estão no poder.
Destinos
rabiscados, entes descartáveis,grãos de areia na imensa praia
global.
E
o passado não passou.
Fragmentados,
ilhados: o barco fez água, comitês de sonhos viraram praças de
vorazes burocratas, o povo servindo aos donos da pátria, crendo que
a servem.
Che
Guevara saiu saiu da guerrilha para triunfar nas camisetas.
Num
muro, li: “Acorda,
Lênin: eles enlouqueceram”.
50
anos, sim – meio século.
A
barricada fecha a rua, mas abre a via.
Cerração
dissipada, pipa no céu, regata assistida aos sete anos:
outrora/agora.
*
Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em
Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do
efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo
nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros. Foi
indicado ao Prêmio Nobel de Literatura de 2018.
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