Poema dos milagres
*
Por Talis Andrade
Eu
era cego
e
tua saliva
tocou
os meus olhos.
Vi
as cores jorrando
por
doce encantamento
de
tuas mãos de fada.
Um
simples gesto teu
transformava
os helicópteros
do
Apocalypse Now
em
corcéis azuis,
edifícios
num campo
flavescente
de trigo
e
amarelos jacintos.
Os
revólveres dos homens
saltavam
das cinturas
transmudados
em brancos pombos.
Fazias
a inversão do mundo
para
justificar a minha visão.
Eu
era surdo
e
tua saliva
tocou
os meus ouvidos
para
que eu escutasse
perdidos
sons:
a
fala do colibri e a flor,
o
tremular das asas das borboletas
em
um vôo volúvel e errante
como
volúvel e errante
o
vôo de Eros,
o
deus menino.
Para
que eu escutasse
o
canto dos pássaros,
tocastes
meus ouvidos
com
a tua saliva.
Eu
era mudo
e
bebi
nos
teus lábios
as
palavras libertadoras.
Eu
era mudo
e
as palavras nasceram
da
minha boca
como
as flores silvestres
ressurgem
no virgem campo
das
manhãs de primavera.
Eu
era mudo e aprendi
a
linguagem dos pássaros
para
cantar o irmão sol,
a
irmã lua.
Eu
era mudo e aprendi
a
linguagem dos deuses
para
cantar tua beleza
de
flamejante luz.
(Do livro “Romance do
Emparedado”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).
*
Jornalista,
poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em
História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como
a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do
Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A
República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o
recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
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