O poder da escola
*
Por Marcos Alves
O Brasil tem uma dificuldade
enorme em formular e implementar medidas e ações que tenham sucesso
na diminuição dos índices de violência e pobreza. Males que se
alimentam um do outro em nosso país e se multiplicam feito praga.
Estão à beira dos nossos quintais, escondidos nos porões da
sociedade. A incerteza de ir até a esquina sem saber se voltamos
para casa.
Exageros e paranóias à
parte, além dos governos o problema também é nosso – como disse
aqui nesse Literário –, e não tem solução a curto prazo. Mas
não consigo ser, absolutamente, pessimista, ainda que o quadro seja
mais que desanimador, absurdo. Porém é impossível não se
envolver, não é mesmo? Afinal, tudo isso aqui um dia será de
nossas crianças. Sina de país subdesenvolvido. não fosse o destino
um dia escolher ser esse o lugar onde iríamos viver.
Por isso fiquei satisfeito ao
ler no jornal que a prefeitura da minha cidade – também criticada
no artigo anterior – acaba de lançar um programa para jovens
baseado no modelo de escola integral. Além do ensino regular
receberão formação profissionalizante e humanista.
Um trabalho sério nessa área,
respeitados os princípios da continuidade e da ética, pode mesmo
trazer bons frutos, alimentar o espírito e o corpo, além de manter
esses jovens boa parte do dia longe do ócio ruim, que ajuda a elevar
os números da violência. É diferente de ensinar os garotos e
garotas a fazer malabarismo e depois ele ir mostrar isso para ganhar
um troco no cruzamento movimentado. Desespero de causa ou mera
dissimulação?
Acho que qualquer menino ou
menina de 15, 17 anos tem sonhos muito maiores que o de vender bala
no ponto de ônibus ou catar papelão nas lixeiras. Há pais e mães
que alimentam a si e suas famílias assim e não há em si nada de
mal nisso, pelo contrário. Mas é improvável que alguém que tem
energia suficiente para mudar o mundo – se possível fosse –
esteja satisfeito com essa perspectiva pela frente.
Também
não tenho nada em geral contra projetos que promovam oficinas de
circo, dança, teatro, artesanato e outras formas de arte nas áreas
pobres. Mas não trazem os resultados que a escola realmente
preparada para a formação do jovem pode oferecer, incluídos os
recursos materiais necessários. Essas crianças bem assistidas
poderão voltar a sonhar com um futuro melhor e isso beneficia a
todos. Cria uma alternativa, abre o leque de possibilidades.
Só não pode acontecer agora
(não creio nisso, estamos em 2007!) o que era comum há uns 30 anos,
mais ou menos. Bastava o adversário político assumir o poder para
abortar todos os projetos do antecessor, fossem bons ou ruins . Isso
foi usado contra os tucanos na campanha presidencial por causa do
bolsa-família – que erradamente, a meu ver, tomou o lugar
bolsa-escola. E a prefeitura a que me refiro é do PT. Portanto, não
há aqui partidarismos ou inclinação ideológica. Apenas um desejo
sincero de que as novas escolas sirvam ao propósito de pelo menos
acolher parte dessa imensa massa de jovens desesperançados. E possam
dar a eles e a nós uma perspectiva melhor de futuro.
-
Marcos Alves é jornalista e diretor de vídeos.
Pedro, que lembrança boa.
ResponderExcluir