Não tenha medo de se expor
O
jovem Pedro Pereira, que se confessa “aspirante a escritor”,
pede-me conselhos sobre o que deve fazer para ser bem-sucedido nessa
atividade. Puxa, xará, mais?!! Não bastam os cerca de 240 textos
que já escrevi a propósito, neste espaço?! Mas vamos lá.
Em
princípio, digo-lhe, sem nenhum constrangimento e sem medo de errar,
que não existe nenhuma fórmula mágica que nos garanta o sucesso
sem possibilidades de erro. Não há nem nesta e em nenhuma outra
profissão. Há uma série de circunstâncias individuais que
favorecem ou atrapalham as pessoas de serem bem-sucedidas. Cada qual
tem as suas.
E
não basta apenas o talento para se conseguir êxito no que se faz
(como muitos teóricos e arrogantes “donos da verdade” apregoam),
embora sem ele não se vá a lugar algum. Você tem que gostar do que
faz como condição preliminar para dar, pelo menos, os primeiros
passos em direção ao sucesso. E esse “gostar” tem que ser
profundo, apaixonante, definitivo e absoluto. Implica em aprender
tudo o que diga respeito à atividade escolhida e muito além.
Não
me sinto, pois, habilitado a aconselhar quem quer que seja no que,
como e quando fazer. Mas já que você me pede um conselho, reproduzo
o de alguém muito mais habilitado, famoso e bem-sucedido do que eu,
o escritor João Ubaldo Ribeiro.
Confrontado
por um jovem, como você, a lhe dar algumas indicações sobre como
caminhar com segurança pelos meandros da literatura, escreveu: “Em
primeiro lugar desaconselharia o jovem candidato a escritor a
continuar; sugeriria que desistisse enquanto é tempo. Mas se isso
for mesmo impossível, eu diria então está bem, persista, vá em
frente, leia muito, todas essas coisas que são lugares-comuns. E
principalmente, seja humilde, mas combine essa humildade com certa
obstinação. O resto, não é com você, amigo. É um mistério”.
E é mesmo.
Uns
fazem tudo de errado, passam a vida escrevendo, e fracassando, e
subitamente... Zás! Acertam na mosca! Produzem uma obra que cai no
gosto do público e, dessa forma, conquistam não só o sucesso, como
a glória.
Outros,
por seu turno, seguem todos os “cânones” conhecidos, leem muito,
pesquisam além da conta, são observadores, apuram seus textos,
treinam, treinam, treinam; persistem, persistem e persistem.... e
nada! Não conseguem conquistar o leitor e, sem este, em literatura,
nada feito. É, pois, como Ubaldo destaca: “um mistério”.
Há
claro algumas coisinhas básicas, que ajudam muito (e se não
ajudarem, também não atrapalham), mas estas, com certeza, você já
está careca de conhecer. Não serei, pois redundante e não
cometerei a indelicadeza de tratá-lo como completo ignorante no
assunto, reproduzindo-as aqui.
Só
posso recomendar-lhe que comece pelo princípio. Ou seja, tente
cativar leitores. Para isso, todavia, você não pode ter medo de se
expor. Mostre seus textos para todos os que se disponham a lê-los,
parentes, amigos, namoradas, amantes, o diabo a quatro. Faça um
blog, escreva para jornais, divulgue sua produção fartamente.
Claro, antes de tudo, terá que produzir muito, e bem, e cada vez
melhor. Se não mostrar aos outros o que você escreve, como eles
irão julgar se é bom ou ruim? Por telepatia? Creia, isso não
existe.
Faça
o seguinte, comece por se juntar a nós. Em vez de ser meramente
leitor eventual do Literário, como você mesmo confessa que é,
torne-se nosso “seguidor”. Já é um começo.
A
seguir, envie-me seus textos. Não tenha receio, não dói. Ninguém
irá espancá-lo por isso. E prometo publicá-los. Ninguém que já
nos procurou ficou na mão. Tenha coragem. Exponha-se. E não fique
melindrado (como eu fico) quando (ou se) ninguém comentar o que
escreveu. Ou se o comentário lhe for desfavorável.
É
o máximo que lhe posso recomendar. O mais, com certeza, direi, mesmo
que de passagem, nos próximos editoriais. Ou não, pois não posso
garantir o que vai me ocorrer nem mesmo no próximo minuto, quanto
mais nos próximos dias, semanas, meses e anos.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Há textos horríveis na forma,que mal a gente começa e já está disposto a abandonar. Já outros podem tratar de assuntos que contrariam as suas convicções, mas você gosta desde a primeira frase. Agradar é um mistério, e o que agrada a um por uma característica, poderá desagradar ao outro pelo mesmo motivo. A arte continua sendo um mistério.
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