Discrepâncias do mercado
editorial
*
Por Solange Sólon Borges
Nem só de metáforas e belos
enredos a literatura é feita. Há discrepâncias que a permeiam.
Primeiro, em caráter numérico; segundo, em termos de mercado.
Vejamos o primeiro. Pesquisa
recente (6/2006) divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) indica que o
faturamento das editoras subiu cerca de R$ 902 milhões, em 1991,
para o patamar de R$ 2,5 bilhões, em 2004. O BNDES tira outros
números da manga: o faturamento teria diminuído 48% entre 1995 e
2003. A CBL argumenta que se utiliza de valores nominais para a
pesquisa. Os economistas da UFRJ, que assinam a pesquisa do BNDES,
usam valores deflacionados, operando com o valor real do real em
séries históricas. Discussões econômicas à parte, há outros
dados preocupantes.
No 34º Encontro de Editores e
Livreiros, realizado em agosto de 2006, em Fortaleza, foram apontados
outros fatores para essa salada numérica. Fábio Godinho (diretor
geral da Larousse) disse que o mercado encolheu 26% nos últimos 10
anos. Desde 1995 as vendas caíram 23% no varejo e as compras do
governo — indiscutivelmente o maior comprador do país — 31%. Uma
renda maior do brasileiro, somada à universalização do Ensino
Médio não modificou esse mercado estagnado. O preço do livro,
entre 1999 e 2005, andou subindo mais do que a inflação, levando-se
em conta o IPCA do IBGE.
Não dá realmente para
entender para aonde se caminha — e se realmente se caminha. Houve
um crescimento de 60,83% na venda de livros em supermercados e de
48,19% em bancas de jornal, além de uma queda surpreendente nas
vendas feitas pela internet, segundo dados da Pesquisa Mercado
Editorial Brasileiro 2005 (Fonte: Globo
on line). O mercado
aqueceu ou gelou? Redes de livrarias apostam em novos pontos,
livreiros independentes fecham suas portas... Afinal, trabalhar com
livros é ou não é um bom negócio, no Brasil? Fica a dúvida no
ar.
A perenidade ou a eternidade
do livro é tema de outra discussão. Afinal, qual o impacto da era
digital sobre o livro? E como se relacionar com o conteúdo de uma
forma diferente?
No Brasil, a Biblioteca Livre
sonha em reunir o catálogo das bibliotecas, disponibilizando os
dados na net. A informação poderá ser mais democrática ao tentar
integrar diversos acervos num único site. Se por um lado essa
iniciativa da SABIN — Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional —
junto com engenheiros da UFRJ e patrocínio da IBM lembra a tão
sonhada Biblioteca de Alexandria, ela está longe de ser
concretizada, na prática. Hoje a Google, que digitaliza o acervo
completo das cinco maiores bibliotecas do mundo, tropeça no respeito
à propriedade intelectual, jogando areia nas previsões feitas em
2000 que 10% do mercado editorial seriam digital até 2005. Fizeram
bem melhor nossos amigos em 280 a.C em Alexandria, concentrando 70%
da produção da época, segundo alguns historiadores, sem as
facilidades da internet, movidos pelo amor aos livros ou pelo
controle do saber. No mundo digital, se avança menos.
Indiscutivelmente. E, no mercado editorial, temos uma ligeira noção
para aonde se caminha de fato. Espero que pelo melhor caminho que
inclua o amor aos livros e o prazer pela disseminação do
conhecimento.
* Jornalista, dedica-se a
diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em
alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um
deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL
TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela
Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio
Bandeirantes e na Rádio Gazeta — emissoras das quais foi redatora,
repórter, locutora e editora.
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