A abelha
* Por Leon Tolstoi
Uma abelha pousada numa flor
pica uma criança. E a criança tem medo das abelhas e diz que o
objetivo delas é picar os homens.
O poeta admira a abelha que
trabalha no cálice da flor e diz que o objetivo da abelha é
recolher o aroma das flores.
Um apicultor, notando que a
abelha recolhe o pólen e o néctar e os leva para sua colméia,
diz que o objetivo da abelha é recolher o mel.
Outro apicultor, tendo
estudado de mais perto a vida do enxame, diz que a abelha recolhe o
pólen e o néctar para alimentar a larva e criar a rainha, que seu
objetivo é a continuação da espécie.
O botânico nota que ao passar
com o pólen da flor dióica para a flor fêmea, a abelha fecunda, e
vê nisso seu objetivo.
Um outro, observando a
migração das plantas, verifica que a abelha contribui para ela, e
pode dizer que tal é o objetivo da abelha.
Mas o fim último da abelha
não se reduz ao primeiro, nem ao segundo, nem ao terceiro dos
objetivos que o espírito humano é capaz de descobrir.
Quanto mais o espírito humano
se eleva na descoberta desses objetivos, mais evidente se torna que o
fim último lhe é inacessível.
(...) Graças à razão, o
homem observa-se a si mesmo; mas só se conhece através da
consciência de si; nenhuma observação e nenhuma aplicação da
razão são possíveis.
(Trecho do romance “Guerra e
Paz”).
* Leon Tolstoi nasceu em 9
de setembro de 1828 e morreu em 20 de novembro de 1910. Junto com
Fiodor Dostoievski, Máximo Gorki e Anton Tchecov foi um dos grandes
da literatura russa no século XIX. Suas obras mais famosas são
“Guerra e Paz” e “Anna Karenina”.
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