Plenitude
* Por Sayonara Lino
Não quero mais frequentar
aquele supermercado lotado, entediante, com as mesmas verduras
amassadas, aquelas frutas mal ajambradas, encontrar com as mesmas
caras, ouvir os mesmos assuntos de fila para dez volumes, subir o
morro com aquele monte de sacolas agarradas em meu braço. Quero ir à
feira pela manhã, escolher calmamente o que desejo levar,
pechinchar, comprar meia dúzia de girassóis e perceber que ganhei o
dia.
Quero me preocupar menos com a
arrumação da casa, que por mais que se tente manter conservada está
sempre bagunçada, como se tivesse sido atingida por um tornado. São
tantos papéis, roupas, badulaques, móveis, tralhas, coisas antigas
e amassadas... Chega dessa mania de viver para isso, deixarei a sala
sempre arrumada e passarei a chave na porta que dá acesso aos outros
cômodos. Viverei de aparências. Precisarei apenas de um verniz, uma
organização superficial para receber meus ilustres convidados, que
raramente aparecem.
Cansei dos saltos altos, dos
brincos de argola, dos colares que pesavam, das pulseiras que
adornavam. Menos é mais, meu bem.
Desisti de dormir tarde. A
partir de agora, terei que madrugar, fazer alongamento, tomar o sol
de outono, ir lá em cima, no jardim, onde as borboletas amarelas
voam e pousam em meu ombro esquerdo.
Quero mais tempo para sentir
minha respiração, cuidar de mim, diminuir um pouco o ritmo de
leitura para olhar a paisagem. Envelheci dez anos em um por ser
rígida demais.
Quero mais equilíbrio,
plenitude, menos razão, mais alegria e cabeça fria.
*
Jornalista, com
especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de
Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em
Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição.
Diretora de Jornalismo e redatora da Revista Mista, que é
distribuída em Governador Valadares, Ipatinga e Juiz de Fora, MG e
colunista do portal www.ubaweb.com/revista.
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