Mofo
* Por
Flora Figueiredo
A
sala escurecida,
o sofá marcado,
os tons esmaecidos pela vida,
em cada almofada algum recado.
O abajur ainda torto,
o gramophone.
Um romance aberto numa noite insone,
o gato mal desperto, quase morto.
Sua figura barroca,
descombinando.
Riscas do tempo denunciando
a vida decadente, meio louca.
O pó renitente no tapete,
cheiros diversos de descaso.
Um desalinho que você consente,
pendente, a flor que coloquei no vaso.
No ar uma ligeira bruma.
Você fuma seu amor rasgado e obsoleto:
essa coisa tanta e já nenhuma,
essa farsa tão pobre e amarrotada,
nosso caso mofando em branco e preto.
o sofá marcado,
os tons esmaecidos pela vida,
em cada almofada algum recado.
O abajur ainda torto,
o gramophone.
Um romance aberto numa noite insone,
o gato mal desperto, quase morto.
Sua figura barroca,
descombinando.
Riscas do tempo denunciando
a vida decadente, meio louca.
O pó renitente no tapete,
cheiros diversos de descaso.
Um desalinho que você consente,
pendente, a flor que coloquei no vaso.
No ar uma ligeira bruma.
Você fuma seu amor rasgado e obsoleto:
essa coisa tanta e já nenhuma,
essa farsa tão pobre e amarrotada,
nosso caso mofando em branco e preto.
In
Florescência, 1987
*
Poetisa,
cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão
Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo
e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça
- às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre
dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal,
seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário