Amada,
Helzinho e a operadora de celular
* Por
Ysolda Cabral
Cedinho
da manhã Helzinho viajou a trabalho, prometendo ligar,
impreterivelmente, todos os dias. Amada ficou triste, sentindo-se
sozinha e muito preocupada, uma vez que ele havia viajado de avião,
apesar da previsão de mau tempo. Contudo, independente da cor do
céu, o fato era que ela não gostava desse meio de transporte.
Ainda
bem que logo teria notícias dele - respirou aliviada. Afinal, havia
tido o cuidado de pedir que mudasse o plano do celular para um que
lhes desse condições de falarem sem gastos adicionais.
A
viagem, considerando o trajeto e mais o tempo de pegar a bagagem,
levaria umas seis horas, aproximadamente. Amada, precavida, carregou
o seu celular e enviou uma mensagem para todos os seus contatos
avisando que, caso precisassem lhe falar, que o fizessem através de
sua linha convencional. Feito isto, sentiu-se mais tranquila e se pôs
a esperar pela fala daquele aparelhinho, como se a sua vida dele
dependesse.
“Como
o Tempo é lento em seu caminhar nessas horas de agonia extrema!”-
considerou Amada. “E como dói ficar longe e sem notícias da
pessoa que a gente ama!”
Sobre
a prateleira da estante, à sua frente, um relógio arredondado,
ridiculamente retratado com cara de sorriso de sol, persistia em lhe
piscar um tique-taque preguiçoso e debochado.
-
Quer parar de me provocar? Você é um relógio muito metido! É bom
que saibas que relógio que atrasa não adianta! Ele logo estará
ligando para mim! E sabe o que mais? Ninguém liga pra você!
Amanda
parecia haver endoidecido de vez, discutindo com os relógios: “E
você, seu celular inútil e idiota, por que não toca?!”
A
contradição era que o relógio andava sem dizer para onde, e o
celular, parado, somente assobiava, sem ligarem que já era noite e
Amada continuava sem notícias.
Naquele
dia não fez absolutamente nada, a não ser esperar que o seu celular
tocasse algum chamado. E nem na noite e nem no amanhecer do dia...
Claro que o avião não tinha caído e nem sido sequestrado. Nenhuma
notícia sobre acidentes aéreos tinha sido veiculada em nenhum
jornal escrito ou falado, até então.
Descartado
o pensamento de acidente aéreo, Amada chegou à conclusão que
Helzinho a tinha trocado por outra muito mais interessante. Essa
conclusão a deixou completamente apática e sem motivação para se
levantar da cama. Sentiu-se doente, muito doente... Preocupada, pegou
o celular e ligou para o seu médico. Ninguém atendeu. Quase que no
mesmo instante ele toca. Era Helzinho, aos gritos, perguntando a
razão de seu celular estar desligado:
-
Não está!
-
Está sim!!!!!!
-
Não estáááááááááááááááááá!
-
Você ligou ele agora!!!!!!!!
-
Não foiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
-
Foi, sim! Estou ligando para você porque recebi, há quinze
segundos, a mensagem da operadora: “Ligue agora, eu já estou
disponível”! E você jurou jamais mentir para mim!
-
É mentira dela!!!!
-
Não é!!!!!!
-
Eu vou lá agora mesmo!!!!
-
Não vá! Fique comigo um pouquinho, que estou morrendo de saudades
de você, Amada minha!!!!
-
E eu de você, Helzinho!!!!
***
Fazer
o quê? O amor é mesmo assim: inexplicável, singular e inebriante!
*
Escritora
pernambucana, natural de Caruaru.
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