O
vistoso Brasil da “moralidade”
* Por
Fernando Brito
Como
se sabe, o Brasil livrou-se, há quase dois anos, do maléfico
“lulopetismo”.
Passou
a ser governado por uma ampla coalizão de homens bons, retos,
tão honestos que nenhum deles foi à garra policial, com as
notáveis exceções de Eduardo Cunha – imolou-se o
libertador de nossa libertação, Geddel Vieira Lima, que esqueceu
uns trocados em um apartamento e Sérgio Cabral,que mandou seu próprio filho deixar o cargo que tinha e ir votar pelo impeachment.
O
resultado desta “moralização” está nas primeiras páginas dos
jornais de hoje: Temer calcula ter R$ 30 bilhões para aprovar a
reforma da Previdência, diz o Estadão,
acrescentando que a Caixa, sem dinheiro para financiar imóveis,
prepara um polpudo reajuste de 37% para seus diretores postos sob
suspeita por seu próprios auditores.
Não
é muito diferente do que eram as manchetes de ontem, anteontem, dois
meses atrás, ou seis, ou há um ano.
O
vistoso Brasil que exsurgiu do golpe de Estado está aí, com a
vísceras expostas e com instituições que assumem
desavergonhadamente o papel de tutores políticos da população,
como faz o chefe da Polícia Federal ao dizer a O Globo que seu
encontro secreto com Michel Temer foi “um pequeno erro de agenda”,
que é “um policial bem mandado” e que espera “auxiliar o
cidadão nas próximas eleições” com a exibição da versão
policial de quem é honesto e quem não é.
Vamos
bem na economia, porém, e isso é o que importa. Desça do seu
apartamento, fale com zelador ou vá até a esquina onde estão
os pedintes redivivos. Explique a eles que a Bolsa vive um “boom”
ou que os R$ 17 de reajuste do salário mínimo são justos e
corretos, porque a inflação acabou e, claro, a condenação à
miséria eterna, não.
E
vamos adiante em nossa jornada ao passado, dividindo os pratos de
comida e as doses da vacina da febre amarela, sim, mas jamais as
fortunas acumuladas.
Mostre
a eles, também, que o desemprego, as obras paradas e a degradação
dos serviços públicos já precários são necessários para reduzir
o déficit público pelo teto de gastos e que trabalhar até a morte
é necessário para poder continuar pagando as aposentadorias,
acabando com os privilégios que 99% dos aposentados jamais tiveram.
É
evidente que você não os convencerá e é por isso que, como diz o
excelente Luís Costa Pinto em seu artigo de hoje no Poder 360, o lulismo é um movimento fundado na certeza que muitos conservam: a de
terem vivido entre 2003 e 2011 os melhores anos de suas vidas.
Naqueles tempos o país crescia, havia estabilidade econômica, as
taxas de desemprego caíram abaixo de 5% da População
Economicamente Ativa, houve mobilidade social entre diversos estratos
e se devolveu à média da população a capacidade de sonhar”.
Trocaram,
os grandes senhores, aqueles sonhos e nos deram o de um país
santificado pela moralidade que está aí, exposto num grau de
torpeza que torna tudo imundo, sejam os palácios ou as ruas.
E
como não podem convencer a maioria de que isso seja bom e justo,
partem os homens bons para seu último recurso, sua
ultima ratio:
em nome da moralidade, todos estão proibidos de votar em Lula, ainda
que o queiram.
Moro assim
decidiu e Moro locuta,
causa finita. Não
se contesta o homem que não tem partido, não tem ideologia, não
tem parcialidade, não tem nada que não sejam as verdades que vêm
de suas convicções, às quais os fatos e evidências devem se
dobrar e adequar, ou não virão ao caso.
Até
porque é pecado mortal criticar o santo que nos levou ao inferno.
*
Jornalista, do blog “Tijolaço”.
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