Quem tem medo de São Paulo?
* Por
Flávia Cabral
Uma
ida a São Paulo nunca é uma viagem qualquer, principalmente em
visita a amigos de longa data. Porque São Paulo é um mundo, e meus
amigos, sócio-fundadores da Confraria do Pão de Queijo Expresso,
conseguiram tornar aquele monte de concreto armado quase uma caixinha
de delicadezas...
E
lá fomos nós, saltimbancos... E viva a amizade, a cachaça e a
cidade! Viva Jabaquara, e São Judas que nos salve dos impossíveis
com muita Luz para alumiar nossos caminhos em direção à tão
sonhada Liberdade! E, se ainda assim falharem nossos intentos,
dai-nos pelo menos a Consolação. Amém.
Similaridades
E
estávamos lá! (Juro que é verdade...). Conferindo se São Paulo é
mesmo o túmulo do samba, mas a porta do bar estava fechada para
menores de 25 reais. Daí seguimos para a feira do Calixto, que nos
recebeu com aquele chorinho das salas de nossas avós (ou será
bisavós?), e uma platéia meio punks do edifício Maletta (mais
belorizontino, impossível) misturado com a Usina Unibancool de
Cinema. Lar, doce lar... Descobrimos também que o nosso velho pão
com carne moída se chamava “Buraco Quente”. Como não pensamos
nisso antes?!
Nem
luxo, nem lixo
Em
São Paulo, a visão fica borrada com tantas imagens, e não sabemos
se o lixo virou luxo ou se o luxo está é se disfarçando de lixo,
assim, pra ficar meio underground, entende? No ponto em frente de um
daqueles botecos onde a expressão “copo sujo” seria um tanto
quanto, digamos, lisonjeadora, fomos surpreendidos por uma música em
italiano, uma quase ópera. Não era CD, não era DVD, era um homem e
uma mulher em verdadeiro duelo musical num karaokê vagabundo. A
magia contaminou o prosaísmo do ponto, que parou para ouvir. E a
vida, banal como nunca, nos mandou o busu justamente no momento da
descoberta... Snif!
Ouviram
do Ipiranga?
Visitamos
o Museu do Ipiranga, que na verdade se chama Museu Paulista, como
manda a índole dos nativos. Tínhamos relativamente pouco tempo,
então o jeito era dar uma bisbilhotadinha nas imensas salas,
transportados, de carruagem ou cadeirinha de arruar, para os tempos
em que as escarradeiras faziam parte do mobiliário uma família
chique. Aliás, acho que todo visitante deve ter uma vontadezinha de
levar de souvenir a mais modesta peça daquelas expostas.... Mas quem
quiser conhecer as margens plácidas do Ipiranga, vai encontrar
apenas um esgoto a céu aberto. É o progresso...
O
avesso
Em
nossa busca pela “alma paulistana”, seja lá o que isso for,
passamos na Ipiranga com São João. Não aconteceu nada em nosso
coração naquele momento, mas posso garantir que o bar Brahma, ao
lado da famosa esquina, tocou fortemente nuestra alma latina, ao som
de samba e salsa! Só uma pergunta não quer calar: será que o cinza
da cidade acinzentou o paulistano, que samba pouco e ri de lado?
Meca
Ir
a São Paulo sem assistir a um espetáculo é ir a Roma e não ver o
papa. Por um feliz acaso do destino, fomos parar numa sala do Sesc,
para ver “O Púcaro Búlgaro”. Púcaro é um vaso com alças, mas
o significado de búlgaro só será descoberto quando comprovada a
existência da Bulgária, como pretendem os personagens dessa comédia
non-sense de muito sentido (!). Falando nisso, alguém já conheceu
um acreano?
La
garantía soy yo!
Nunca
conheci as provavelmente plácidas terras do Acre, mas o inferno
urbano certamente atende por Rua Ifigênia, no Vale do Anhangabaú.
No meio de um formigueiro humano, você encontra tudo quanto é
computador, programa, MP3, 4, 5, 10... Saímos com nossos
aparelhinhos nas sacolas, exatamente iguais, bons mosqueteiros que
somos, já que mineiro gosta mesmo é de andar em bando, né não?
It’s
raining man...
Para
terminar os dias numa capital tão moderna, nada melhor que uma boate
“liberal” no Largo do Arouche, ao som de muito anos 80. Sabe o
que é se sentir invisível que nem aquela meia Trifil? Pois é...
Éramos umas seis mulheres pingadas no meio de uma irmandade
masculina. E que irmandade! A vantagem: eu e as outras pudemos
esquecer as etiquetas de comportamento, ahn, dançável: dançamos
certo & torto, no melhor estilo Não se Reprima...
E
assim foi. Era uma vez até a próxima.
*
Jornalista, assessora de imprensa da Companhia de Saneamento de Minas
Gerais (Copasa).
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