O que é obrigatório
* Por Sayonara Lino
Tudo o que é obrigatório
traz um grau de comprometimento que em certos momentos da vida
torna-se difícil, mas que cumprimos pelas mais diversas razões.
Evitamos faltar ao trabalho de todas as formas, fazemos o possível
para ir à faculdade com frequência, cuidamos de todas as tarefas
necessárias ao desenvolvimento natural do cotidiano para que a vida
flua e tudo esteja cercado por uma certa harmonia. Mesmo que bata a
vontade de jogar tudo para o alto, o bom senso e o instinto de
sobrevivência dão um jeitinho de sossegar nossos instintos.
E quando o que é obrigatório,
cobrado de nós, sem que talvez notemos, é o sentimento de
felicidade? O que fazer se não sentimos aquela alegria perene, se
não estampamos aquele largo sorriso na cara pálida, se nossas
olheiras andam lilases de tanto cansaço acumulado? Como é difícil
andar com disfarces, ensaiando para que ninguém pergunte o motivo de
você estar um pouco menos falante, um pouco mais magra, um pouco
insípida, um pouco áspera. Você, que sempre foi um doce, tão
comunicativa, tão carismática.
A sociedade não quer a
tristeza, a depressão, a desventura, a adversidade. Se aconteceu com
alguém, pode acontecer comigo, então não se fala mais nisso. Vamos
varrendo a sujeira para debaixo do tapete, vamos fingindo,
empurrando, gargalhando e tomando champanhe na festa de formatura da
vizinha, no aniversário da concunhada, no batizado do primo, nas
bodas de algodão da irmã.
Sempre bonita, sorrindo,
disposta, feliz. Felicidade compulsória, ninguém suporta uma dose a
mais de melancolia.
*
Jornalista, com
especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de
Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em
Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição.
Colunista do portal www.ubaweb.com/revista.
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