Consciência e experiência
A
exata percepção de todas as informações que recebemos (não
importa por quais meios) – de tudo o que fazemos, do que nos fazem
e, enfim, do que nos acontece ao longo da vida e se constitui no
nosso acervo de experiências pessoais – e a sua consequente
fixação na memória, é o que se convencionou chamar de
consciência. A maioria das pessoas não sabe o que fazer com a maior
parte do que aprende.
Determinados
indivíduos, por exemplo, cometem, sempre e sempre, os mesmos erros e
afrontam, claro, as mesmas consequências, sem que se decidam a mudar
de atitude. Sofrem porque querem. Teimosia? Talvez! Essas pessoas
são incapazes de perceber que agindo da forma que agem, não
chegarão a lugar algum. Quase nunca chegam.
Sabem
o que é certo, mas não o praticam. São experientes, no entanto,
não são conscientes. O que é mais importante para nós, o
conhecimento ou a experiência? Claro que ambos. Mas, digamos que
tenhamos que optar por um dos dois. Eu optaria, sem pestanejar, pelo
segundo.
Conhecimento
eu posso obter (e obtenho) por vários meios, como pela leitura, por
exemplo, ou por conversa com os amigos ou com pessoas cultas, ou por
ver determinado objeto ou testemunhar um fato importante, que
adquira, com os anos, caráter histórico, etc., sem que precise me
expor pessoalmente.
Todavia,
quando “vivo” essas situações, que poderia conhecer pelas
formas mencionadas, elas se fixam para sempre na minha memória. E
mais, se incorporam, de vez, ao meu cabedal de vida. Resta, no
entanto, saber o que fazer com esse conhecimento obtido, não raro,
de forma até traumática.
Caso
tenhamos errado, ao passar por essas experiências, e sofrido as
devidas consequências, manda o bom-senso que se analisem tanto a
natureza, quanto a extensão e, principalmente, a causa dos erros
cometidos. E que eles não mais de repitam. Não é (como afirmei) o
que acontece sempre. Às vezes “memorizamos” a experiência, mas
não nos tornamos conscientes dela.
Trata-se
(sei) de tema complicado para o entendimento. Espero, todavia, estar
sendo claro nesta explanação. Quanto mais cedo nos tornarmos
experientes – no trabalho, na convivência social, nos
relacionamentos afetivos etc. – maiores serão nossas chances de
êxito na vida. Contudo, para isso, teremos que nos expor. É
necessário agir, participar, fazer e desfazer e, claro, correr
riscos. Certamente tropeçaremos muitas vezes. Teremos muitas
decepções. Sentir-nos-emos impotentes e frustrados vezes sem conta.
Mas, certamente, nos tornaremos experientes.
E
quanto mais conseguirmos transformar um vasto cabedal de experiência
em consciência, quanto mais cedo isso acontecer e, principalmente,
quanto mais o usarmos em nosso proveito, maiores chances teremos de
evitar aborrecimentos inúteis e desnecessários e de evoluir na
carreira – quer profissional, quer artística, quer esportiva, e,
por consequência, na vida – sem sustos e nem sobressaltos.
O
irônico é que, via de regra, nos tornamos experientes (e
conscientes) quando tudo isso já não nos traz muito proveito. À
medida que envelhecemos, escasseiam nossas oportunidades, até por
questão de preconceito e, por isso, não podemos mostrar ao mundo o
que aprendemos com nossa longa vivência. Uma pena! Um vasto
potencial de grandes realizações acaba desperdiçado apenas porque
alguém (certamente jovem) entende que juventude seja sinônimo de
sabedoria. Muito pelo contrário. E essa atitude insensata e
preconceituosa, convenhamos, é imensa tolice.
Algumas
pessoas passam o resto de suas vidas ruminando de como seria sua
trajetória se pudessem aplicar (no trabalho, na convivência e nos
relacionamentos) tudo o que aprenderam, de maneira muitas vezes rude
e traumática. Tornam-se amargas, ácidas, críticas e se isolam do
mundo, condenadas a uma velhice penosa e solitária. Outras tantas
(raras), porém, têm a oportunidade de pôr em prática esse
aprendizado. E quando não têm, buscam-na, batalham por ela,
constroem-na. Por isso, são úteis, produtivas e, sobretudo,
exemplares até o derradeiro dia de vida.
O
escritor francês, André Malraux, constatou, a esse propósito, num
de seus tantos ensaios, em forma de indagação (cuja resposta nos é,
sobretudo, óbvia): “O que pode um homem fazer de melhor de sua
vida que transformar em consciência a mais ampla experiência
possível?”. Ademais, podemos fazer pouca coisa, além disso.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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