Blumenau,
chorei de tanto amor
* Por
Urda Alice Klueger
Por
acaso, aqui na internet, passei por uma foto que me fez parar e olhar
com mais atenção. Ampliei-a. Dei a primeira olhada.
Era
da cidade que
já foi minha, vista bonita, Beira Rio, provavelmente tirada do Morro
da Antena, e a olhei com curiosidade, pois por tanto tempo aquela
cidade foi minha que deveria me despertar alguma reação.
E
a reação veio, mas nada dizia do lugar aonde nasci à Rua
XV de
Novembro 1398,
em Blumenau,
nem da minha infância na Garcia,
nem das escolas que frequentei, nem dos empregos que tive, nem dos
lugares onde morei, nem das pessoas que conheci – por um momento
foi uma foto estática, que nada dizia além da localização
geográfica e do ângulo em que foi tirada, até que, com a força de
um vulcão em erupção, irrompeu das minhas entranhas, do meu
coração, do meu âmago, das mais vivas e fortes fibras do meu ser,
da minha essência mais profunda o que aquela cidade representava
para mim, e que era a intensidade do amor, e o nome do amor afluiu à
minha boca e ao meu coração com a intensidade de sempre, e eu me
curvei de dor a repetir aquele nome, e me curvei de dor porque nada
mudou, tantas décadas depois, e aquela cidade, e aquela Beira Rio
que ainda não existia, e aquele rio simbolizam o mesmo amor que um
dia simbolizaram e deram o sentido da minha vida, mesmo quando a
espada do Destino veio e cortou abruptamente aquela maravilha que se
vivia. Encurvada pela dor, olhava para aquela foto e ouvia, como que
rimbombando poderosamente em todo o meu entorno aquele nome que eu
pronunciava como a palavra cabalística que é e que faz toda a
diferença em eu estar viva ou não estar, e esse estar viva ou não
estar é o que acontece nesta vida e que deverá acontecer em outras.
Então,
agora sei o que aquela cidade representa, e lá de ela, através da
foto ocasional, o amor estava e veio em ondas coloridas e chegou até
mim, e só então eu entendi a cidade, o porquê da cidade, qual o
meu laço com ela. Como que ancorada lá, está a mais
linda história de amor que alguém já viveu e agora eu posso ir-me
e ser feliz porque
a história está comigo como meu bem mais precioso, e se algum dia
tiver alguma dúvida, saberei onde está o escrínio que guarda
aquela joia mais preciosa de todas, pois está comigo mas tem as
raízes lá.
Chorei
de tanto amor por
todo o tempo em que escrevi este texto.
Enseada
de Brito, 05 de maio de 2017, dia diáfano de tão azul clarinho.
*
Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela
UFPR, autora de vinte e seis livros (o 26º lançado em 5 de maio de
2016), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e
“No tempo das tangerinas” (12 edições).
Na maturidade ficamos frágeis e as lembranças da mocidade nos pegam com força.
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