Bimbalham os sinos
* Por
Ruth Barros
Ao contrário do Luciano Huck
e da Angélica, que devem adorar o Natal, pois passam dezembro
inteiro com um sorriso de orelha a orelha nos comerciais, não sei se
por paixão pelo nascimento de Cristo ou se pelos milhões faturados,
Anabel detesta essa época. E olha que não estou falando nas
enchentes, nos engarrafamentos monstro que dão vontade da gente
andar de vassoura e nem mesmo na agitação do comércio, que
transforma uma mísera compra de supermercado em um suplício. São
ossos do ofício, inevitáveis como a epidemia de dengue que se
anuncia a cada verão.
O pior mesmo para a escriba é
a obrigação de alegria e de felicidade que dezembro impõe. Sem
querer ser mais chata que já sou acho esse período melancólico,
sujo, quente, onde a miséria parece ser realçada pelo tititi criado
pelos que tudo têm e que sempre querem mais. E antes que meus amados
e escassos leitores desistam de mim de vez por causa do baixo astral
devo dizer que qualquer um se sentiria assim se morasse no meu
prédio. Parece que a 25 de Março mudou para cá, tal a profusão de
luzes, luzinhas, acendentes, apagantes, de todas as cores, que
ornamentam a entrada do edifício. E o pior, todos os prédios da rua
estão igualmente rebocados, o que aumenta a sensação de calor das
noites abafadas. Chega a dar saudade da época do apagão do Fernando
Henrique, que obrigou a população a ser mais comedida no quesito
luzes de fim de ano.
A enormidade de contas a
pagar, os décimo-terceiros, as inevitáveis gorjetas para lixeiro,
carteiro, porteiro, manobreiro e outros eiros tiram qualquer um do
sério para jogá-lo no vermelho. O medo de ter caído na malha fina
do Leão, da facada que virá com o novo IPTU, IPVA e similares
também mexem com minha cabeça, deixando o fraco cérebro preocupado
com o rombo do princípio do ano. Além de todas as incertezas
financeiras vêm as confusões de família, viagens – mais um bom
motivo para andar de vassoura nesse apagão aéreo do Lula – e a
comidaria obrigatória, que apesar de deliciosa, mexe com meu
corpinho e me faz temer pelo futuro dele.
Resolvi reagir. Matriculei-me
numa academia e paguei o ano inteiro. Assim, quando vierem as contas
e impostos, não terei de desviar dinheiro da cesta básica de
qualquer garota, ou seja, manutenção da cinturinha, para cobrir
supérfluos. Vou começar a produzir endorfina (natural) através dos
exercícios, ficando mais alegrinha e combatendo esse aluguel que
estou fazendo na cabeça dos leitores. De quebra, abrirei espaço
para mais comida e bebida, sem grandes pesos na consciência, só no
fígado e na balança. Se conseguir pisar na areia sem canga, que nem
as gordinhas do Dove, já me darei por bem paga. Encher bem um
biquíni selvagem ainda é uma grande vingança.
Anabel Serranegra também
acha festa de Ano Novo um saco.
*
Maria
Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou
carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas,
enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou
em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal
da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da
coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela
revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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