Dois
livros e dois poetas em Olinda
* Por
Urariano Mota
Hoje tem noite de duplo lançamento na Casa Azul, em Olinda. O editor e poeta Gustavo Felicíssimo lança o seu livro de crônicas “Carta a Rubem Braga”, e Ñasaindy Barrett lança o seu de poesia “Do que foi pra ser agora”. Será uma festa de literatura e direitos humanos a partir das 20 horas.
Sobre
o livro de crônicas de Gustavo Felicíssimo anoto: são textos de
leitura agradável, mas nada superficiais ou passageiros. Ele, que é
bom editor e ótimo poeta, lampeja em textos da sua prosa. Quero
dizer, o subterrâneo do seu íntimo é mesmo território da poesia,
onde ele trabalha soberano. Mas a boa pessoa que ele é – pessoa
dotada de atos bons - aparece em mais de um texto, ou para ser mais
preciso, em linhas que são um convite para o poema que virá
adiante.
Das crônicas destaco “Até sempre,
companheiro!”, mais a bela “A casa em que nasci”, à qual se
segue “Passeio sentimental”, que fez o compositor Sergio Ricardo
ter vontade de pegar de volta o violão para cantar Marília, terra
natal de ambos. E não posso esquecer a filosófica “O valor das
coisas”, mais a companheira “Eu também vou por aí!” em que o
poeta Gustavo saúda o livro de Hildeberto Barbosa Filho, que deixa
na gente o gosto da terra paraibana.
Mas a que eu vou
reler mais vezes será “Outras boas coisas da vida”, porque é
inspiradora, estímulo para um texto que fez adivinhar um outro em
mim, que ainda está amadurecendo.
Sinto que ainda não é
possível escrever agora algo semelhante a “boas coisas da vida”.
Assim me conformo em deixar estas tempestades de Temer e fascismo
nacional passarem. Por enquanto, agradeço a leitura com que o poeta
e editor me presenteou.
Sobre Ñasaindy Barrett, autora do
livro “Do que foi pra ser agora”, anoto: ela é poeta por opção,
e filha de guerreira Soledad Barrett executada no Recife em 1973, por
opção e genética.
A respeito dela já escrevi que é
impossível não falar que Ñasaindy Barrett de Araújo é a única
filha de Soledad Barrett. Filha amada pela guerreira de quatro povos,
como a chamava o grande poeta Mario Benedetti. O caráter literário
e político da sua poesia se dá não só pelas condições de vida e
morte da guerreira paraguaia, assassinada pela ditadura no Recife.
Mas pela própria vida de sua filha poetisa.
Deixo com
vocês estas breves luzes:
e me embriago com o seu perfume,
confrontando o meu redor confuso,
contrariando toda a infelicidade
que rodeia o mundo....
Está bem que estejamos vivos, mas
o que é um pássaro sem voar?
Entoa o desejo, canta,
apenas se faz ouvir!”
Hoje,
na Casa Azul, em Olinda, teremos afinal o encontro da poesia em prosa
de Gustavo Felicíssimo e da poesia de Ñasaindy Barrett. Como
profetizou Ñasaindy Barrett em um verso do seu livro:
“A
chuva caiu tão bela quanto foi a sua espera”.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa,
membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance
“Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici,
“Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário
amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O
Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros
Em tempos de seca, poesia e chuva são festas.
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