Convívio com a solidão
A
solidão é outro dos meus temas recorrentes, nas tantas crônicas
que escrevo (como o amor, as artes, o tempo e o cultivo de valores e
ideais, entre outros). Não que me sinta solitário. Pelo contrário!
Às vezes até gostaria de poder privar de mais momentos a sós,
comigo mesmo, às voltas com meus sentimentos e lembranças. Porém,
apenas, às vezes. Gosto da companhia alheia, mesmo que esta não
seja da minha livre escolha e me tenha sido imposta, digamos, pelas
circunstâncias.
Sou
profissional de comunicação, por opção e vocação. E como tal,
escrevo sobre pessoas para outras pessoas lerem. Uma das minhas
crônicas que tiveram a maior repercussão na internet foi a que
publiquei no portal Planeta News, postada no site às 14h46 de 6 de
junho de 2005, intitulada “Tormento da solidão”. Alguns leitores
concordaram, totalmente, com minhas colocações; outros manifestaram
acordo apenas parcial e outros, ainda, discordaram delas. Tudo,
ressalte-se, de forma democrática e respeitosa. É gratificante para
o escritor contar com este retorno.
Os
que apontaram restrições ao referido texto argumentaram
(sabiamente, por sinal) que a solidão nem sempre é opressiva,
terrível, ou um mal. Estão cobertos de razão! Apenas não leram
outra crônica minha, publicada no mesmo portal, e antes de fazerem
essas observações, tratando exclusivamente dos que, por alguma
razão, optam por serem solitários e se sentem bem dessa maneira.
Convenhamos,
o tema é bastante amplo e complexo para ser esgotado, apenas, em um,
dois, dez ou vinte textos. Escrevi, inclusive, um livro (ainda
inédito, mas que breve estará nas mãos dos leitores) sobre o
assunto. E, mesmo assim, este está ainda a milhões de anos-luz de
haver sido esgotado.
Uma
observação se faz necessária e indispensável: nenhuma pessoa sã
e ativa – viva como ou onde viver – goza (ou sofre de) solidão
absoluta. Absolutamente solitários são aqueles que, vítimas de
doenças graves, por exemplo, levam vidas meramente vegetativas, sem
a menor possibilidade de comunicação com o mundo, inclusive tendo
contra elas a “torcida” dos parentes para que morram logo, por
considerá-los um “peso” (quer no sentido material, quer no
afetivo) para a família. É impossível, todavia, saber se têm ou
não consciência dessa condição. Suponho (mas não tenho certeza e
ninguém a tem) que não.
Por
mais solitário que alguém se sinta, tem sempre ao seu redor alguém
com quem se comunicar. Provavelmente, admito, não seja a pessoa
ideal. Mas está ali, presente. Raros, também, são os que não têm
sequer um animal (cachorro, gato, passarinho, jabuti etc.) para lhes
fazer companhia. Estão distantes, portanto, da solidão (e muito
menos da absoluta). Caso sintam-se solitárias, a probabilidade é a
de que não saibam valorizar companheiros (ainda que fortuitos).
Tudo
na vida tem modo e momentos adequados. Da minha parte, sinto-me
privilegiado. “Tempero” meus dias (como um refinado cozinheiro)
com instantes de solidão e outros de plena companhia. As horas
solitárias são as oito diárias em que trabalho na minha produção
literária. A presença de qualquer pessoa, nesse período, é
sumamente inoportuna. O ato de criação é assim: exige silêncio e
solidão.
A
rigor, nem mesmo nesses instantes estou só. Os amigos sempre estão
presentes, de uma forma ou de outra. Tenho, por exemplo, a companhia
dos meus livros. Esta, aliás, é a amizade ideal. Privo dela quando
quero (e preciso). E quando não mais necessito dos seus préstimos?
Simples! Basta fechar o livro e recolocá-lo na prateleira, sem que
haja nenhum melindre e nem arrufo. Tenho, ainda, a companhia de
pessoas que me consultam a toda a hora pelo MSN ou pelo Skype a
propósito de vários assuntos. Como se vê, mesmo optando, num
período do dia, pela solidão, esta está anos-luz de ser absoluta.
Como
se vê, sou mesmo privilegiado. O que mais posso querer? Privo de
solidão, quando preciso ficar sozinho, ou quando me dá na veneta.
Todavia, tenho sempre e sempre e sempre ao meu alcance as pessoas de
que gosto, a esposa, os filhos, os netos etc. (que me completam),
além (não posso deixar de mencionar) dos meus bichinhos de
estimação: nove gatos, criados a “pão-de-ló”. Reitero: o que
mais posso querer?!!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Está muito bem acompanhado, e geralmente por escolha. Sim, o que mais poderá querer?
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