Um
cobertor repleto de pulgas
* Por
Augusto Capucho
Dividiremos
nossa provisão
A
mim caberá algum triste pôr do sol
e
meia dúzia de nuvens carregadas de angústias.
A
você restará cílios molhados de lágrimas,
cinzas
pelos cômodos da casa e cordas partidas
de
um violão barato.
Ficarás
com a lua crescente.
Ficarei
com a lua minguante.
O
que me restará então quando você for embora?
Só
peço que o teu olhar vago
-
azul infinito de vazio -
não
encontre o de outro alguém.
Fui
feliz certa vez e me estatelei no chão
como
um suicida bêbado que parte
em
um vôo sereno do alto de um prédio.
Da
outra vez que fui feliz
esbofeteei
a face de um anjo.
Faz
frio demais nessa noite
e
a poesia é apenas um cobertor
repleto
de pulgas.
*
Escritor e poeta, autor do livro “Uma história sobre bichos estranhos”.
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