Nós versus Zico
* Por
Doca Ramos Mello
Arrááá!!!
Enfiamos quatro bolas no Japão!
Peço
perdão pelo entusiasmo, eu sou uma torcedora renitente porque sempre
morro de pena dos adversários, ainda mais os japoneses, dos quais
sou admiradora confessa, temos muitos japoneses brasileiros (nissei,
bagunssei,
nunssei...), a
gente gosta deles, eles são de casa, nos ajudaram muito o país,
então isso me dificulta tudo na hora de torcer contra... Isto é...
...Dificultaria,
não fosse minha implicância com o Galinho de Quintino. Eu fiquei
emputecida com o Zico. Não é que eu tenha assim uma espécie de
raiva dele, vocês podem acreditar? Pois tenho. Eu lá me conformo em
ver o sujeito cantando o hino japonês com a mão no peito?
Brincadeira...
Bem,
a seleção japonesa, coitadinha, me deixou meio tonta; eu acho que
Zico, espertíssimo como qualquer brasileiro e ainda mais jogador de
futebol, botou logo uns quarenta jogadores assim de três em três
com o mesmo número de camisa e nem o juiz se deu conta. Digo isso
porque os japinhas correram em desespero campo afora sem trégua. Não
há cristão que agüente aquela correria sem abrir o bico e os
mocinhos nem suavam. Então só pode ter sido que Zico trocava de
japonês a toda a hora sem que ninguém percebesse, tanakara,
nô?
Corriam,
eu disse. Disparavam, devo dizer. Não faziam nada, coitados, mas
desabalavam feito formigas desesperadas. Eu acho que lá no Japão é
pouca terra para muito japonês. Então, quem corre mais chega
primeiro e senta, ou deita, sei lá, quem vem depois, se lasca todo,
daí uma verdadeira disposição para o arakiri
ali mesmo. Ou tudo ou nada. Era como se tivessem um motorzinho
debaixo dos pés, o que, em se tratando de povo japonês, não se
pode desconsiderar como hipótese bastante viável. Eu já estava com
aqueles meus eternos problemas de caridade para com o adversário
(naturalmente dissociando a seleção sol nascente de Zico, o traidor
da pátria), quando entrou em campo um Takahara, que confundi com
Kitahara, justamente o sobrenome de um médico conhecido nosso. Então
fiquei pensando que podia ser parente dele, um samurai afastado,
essas coisas. Julguei que devia maneirar ainda mais na torcida. Vai
que o cara aqui ficava sabendo da minha indelicadeza, não pegaria
bem. Mas o Takahara entrou babando, não deu cinco minutos e foi
terminar de babar no banco, matshukado,
de modo que eu pude voltar a meter o pau em Zico.
Isso
aí. Meter o pau em Zico, com aquela cara de infeliz encostado no
poste, quando viu que a vaca tinha ido p’ro brejo completo, nô?
Ganhasse da gente e era capaz de vestir um quimono e ficar abrindo a
boca na frente da tv a gritar arigatô,
arigatô, sayonará,
vê se eu aturo uma barbaridade dessa?! Prevendo a coça, já tinha
dito que não se podia ensinar ninguém a fazer gol e patati, patatá,
toforajá, essas
desculpas esfarrapadas... Mas Zico estava com a maior zica, hehehe!!!
Durante
a partida, vi alguns jogadores japoneses diferenciados, a modernidade
está acabando até com a tradição dos cabelos negros deles e, cada
vez que aparecia um de cabeça amarela, eu gritava p’ro meu marido:
“benhê, olha lá, o cara é loiro”, e meu marido respondia ‘é
natural, é natural’, com um risinho safado no canto da boca.
Muito me
impressionou também o goleiro deles, coitado, que engoliu quatro
frangos, dois só de Ronaldo, e ainda dava altíssimas broncas
ferradas nos companheiros de equipe, fazia caretas medonhas, exortava
todo mundo a correr (acho que eles deviam se dedicar à maratona).
Queria, com certeza, tirar o peso dos ombros (e que peso!). No final
da partida, murchou todo, ficou sem forças, deve ter saído do campo
direto para enfiar a cara no saquê...
Ó,
eu também não gosto do Felipão. Vão aguardando aí...
*
Jornalista
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