Emily
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
"A
memória tem frente e fundos
Como
se fosse uma casa;
Possui
até mesmo um sótão
Para
refugos e ratos.
E
o mais profundo porão
Que
um pedreiro já tenha escavado –
Há
que estar atento para não ser
Por
suas dimensões obsedado". (…)
EMILY
DICKNSON (1830-1886)
Que tal tentar um poema sobre Emily? Li, reli. Li mais. Um modesto artigo? Nesse momento, um pássaro canta perto da minha janela, céu azul. Mais um dia na vida – na nossa vida, no planeta, no mundo – e eu penso em todos os criadores que foram esquecidos ou pouco lembrados em vida. Não é um poema.
Certa vez, tentei um: “Lendo Emily Dickinson”. Tentarei um breve artigo: foi somente após a morte de Emily que sua família descobriu os 1.775 poemas que compõem – lembram os estudiosos da poeta, como o escritor Ivo Bender – que traduziu(com profundo esmero) seus poemas para o português. Nunca foi publicada em vida, “a não ser em colunas literárias de jornais e, mesmo assim, rarissimamente”.
Ela manteve correspondência com um crítico chamado Thomas W. Higginson, para o qual a poeta pediu avaliação do seu trabalho. Ele foi o seu primeiro editor, mas não gostou da escrita de Emily. Ao publicar a sua primeira antologia, Higginson “corrigiu” os poemas.
Já em meados do século XX, “os estudiosos da obra de Dickinson empenharam-se na busca da forma original de sua escrita”. A restauração definitiva de seus poemas deve-se a alguns destes analistas, principalmente Thomas H. Johnson.
Os
temas de sua obra? É claro que não é o assunto em si que importa,
mas a maneira de tratá-lo. Na “Tragédia Grega”, por exemplo,
encontra-se tudo sobre a condição humana. Creio que amor, morte e
desespero – como assinala Ivo Bender – foram
as suas principais obsessões.
as suas principais obsessões.
Banir a mim de mim mesmo,
Tivera
eu esse dom!
Inexpugnável
fosse a minha fortaleza,
Ante
toda audácia”. (…)
Seria preciso transcrever muitos outros versos. Mas o meu texto ficaria longo, ainda mais nos tempos de internet – da fúria, da ansiedade, da impaciência (e do dogmatismo, maniqueísmo e fundamentalismo).
Escreveu um dos maiores críticos dos tempos atuais: “À exceção de Kafka, não lembro de nenhum escritor que tenha expressado o desespero com tanta força e constância quanto Emily Dickinson”.(Harold Bloom).
Hoje ela é considerada uma das grandes vozes da literatura norte-americana, com a estatura de um Walt Whitman (1819-1892). Emily escreveu:
“Se
acaso já esqueceram,
Ou
estão agora esquecendo
Ou
se jamais relembraram
Melhor
é não saber”. (…)
(Brasília,
setembro de 2017)
*
Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em
Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do
efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo
nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário