O ensaio
* Por Rodrigo Ramazzini
- Um, dois, três, valendo...
Como não era você, João Antônio?
- Não era.
- Como não era? E aquela foto
no site que cobriu o evento?
- Que foto?
- Como você podes ser tão
mentiroso João Antônio?
- Eu mentiroso? Se não quer
acreditar que eu estava com o pessoal do carteado e não nesta
maldita festa, não acredita. Pronto!
- E a foto João Antônio? E a
foto João Antônio? O que você me diz?
- Sei lá! Eu não posso
julgar algo que eu não vi...
- Conheço aquela sua camisa
preta de longe, João Antônio.
- Só eu tenho camisa preta no
mundo... Só eu! Digo novamente em alto e bom som: eu não estava
nesta festa que você me acusa de estar! Eu estava com o pessoal do
carteado no clube. Ponto final.
- Você é muito mentiroso,
João Antônio. Que cara de pau, hein!
- Não quer acreditar não
acredita... Eu vi a foto e...
- João, você falou antes que
não viu a foto, agora está dizendo que viu. Não se contradiga...
- Tem razão Adalberto.
Deixe-me pensar... Melhor dizer que vi a tal foto, né? Melhor!
Continuando...
- Eu vi a foto e não dá para
averiguar com precisão o rosto do cidadão que está com a camisa
preta. Estou certo ou não estou?
- Está João Antônio! E daí?
- Então! Mesmo sem uma real
prova, você saiu me acusando...
- Eu vou ligar para a
Paulinha, ela estava nesta festa.
- Se ligar o nosso noivado
está acabado...
- Chantagem numa hora dessas,
João Antônio? Está com medo que ela confirme que o viu na tal
festa?
- Ligou... Acabou. Você
escolhe? Por que não liga então para o pessoal do carteado e
questiona se eu não estava com eles até àquela hora?
- João Antônio, você acha
que eu sou boba? Ligar para os seus cúmplices? Era só o que
faltava...
- Amor! Eu não estava nesta
festa. E se estivesse, diga-me: o que eu faria lá? Quantas vezes
será preciso dizer-lhe que tenho apenas olhos para você?
- Como vou saber que realmente
você não estava na festa? Jura que não estava?
- Você não confia em mim
mesmo depois desses anos todos juntos? Claro que juro! Juro pelo
nosso amor!
- Se eu descobrir que você
estavas nesta festa, você vai ver o seu... Você me paga!
- Amor! Já falei que a amo,
hoje? Vamos parar de brigar, vamos? Um beijo daqueles para
decretarmos “paz”, por favor? ...Chega! Está ótimo. Podemos
parar por aqui Adalberto. Obrigado! E aí Albuquerque, o que você
achou do ensaio, da encenação? Convincente? Transpareci estar
mentindo? E as feições do rosto?
- Que atuação! Se eu não
estivesse com você, eu até acreditava que você realmente não foi
à tal festa...
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
- Ótimo! Ensaiado estou.
Agora é só encarar a fera. Tchau pessoal! Obrigado novamente.
Torçam por mim! Fui para a casa da minha noiva..
* Jornalista
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