Pós-verdade:
verdade?
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
OUVINDO
A “AVE MARIA DE FRANZ SCHUBERT, NA VOZ DE STEVIE WONDER
O
que é verdade? Essa pergunta também foi feita a Jesus, durante o
seu “julgamento”.
A realidade é difícil? Os fatos são dolorosos? Então, muda-se o conceito e abandona-se a verdade.
Num exemplo muito prosaico , ”vendedores” viraram “consultores” – consultores de perfume e de tudo.
É o reino do eufemismo!
Onde prevalece a propaganda, o mercantilismo, cerveja virou algo intrinsecamente ligada às festas de São João, tão enraizadas aqui no Nordeste.
Forrozeiros autênticos são abandonados pelos “sertanejos universitários” – que praga!
Já não basta a dupla sertaneja/goiana Joesley & Wesley, patrocinada pelo BNDES, Caixa Econômica e outras instituições dominadas pelo gangsterismo e pelo banditismo, que estão ou estavam no topo da República?
Nosso mundo acelera com velocidade estonteante a
informação (não a “formação”).
Acelerar e aprofundar não são verbos semelhantes. Ou não?
Dispersei-me.
O adjetivo pós-verdade adquiriu importância e significância que “transcende o vernáculos e a semiologia da geopolítica internacional”.
Como alguém observou, o facciosismo fascista e a intolerância desumana hiperbólica, associam-se à hipocrisia flagrante que renega a veracidade factual do viver”. (…)
O niilismo está na soleira da porta.
A verdade é o que é; segue sendo verdade, ainda que pensemos o revés, disse A. Machado.
Qual a primeira vítima de, por exemplo, uma guerra? É a Verdade.
Alguém lembra que, ainda que a linguagem cotidiana não seja construída de forma lógica, entretanto ela e o mundo estão estreitamente ligados, como diria Ludwig Wittgenstein (1889-1951) – “Pois o mundo é a totalidade dos fatos”, constataria ele (lembrado também em artigo de Marcos Luna).
Fui obscuro? Não quis.
Um poeta espanhol disse que a verdade nunca é triste...
A busca de
fabulação pode anestesiar a nossa dor, mas não pode prevalecer –
senão será roubada a nossa autenticidade.
E eu só posso pedir que alguém acredite em mim, se previamente eu acreditar fundamente no que digo*
*Ludwig Wittgenstein, acima citado, foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico.
Participou do chamado “Círculo de Viena”, que contribuiu para a renovação da lógica na década de 20 do século passado.
Ele é considerado um dos pais da “filosofia analítica”.
Estudou
com Bertrand Russel (1892-1970) entre 1912 e 1913.
(Salvador,
junho de 2017)
*
Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em
Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do
efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo
nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
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