A lista
* Por Rodrigo Ramazzini
Era sexta-feira. Como hábito
deste dia, a turma do escritório de cobranças, após o expediente,
saiu para o happy-hour. Tomavam cerveja sempre no mesmo bar. Eram
entre quatro amigos: o Betto, o Castor, o Gordo e o Tiaguinho.
Como convencionado para essas
ocasiões, o assunto “trabalho” não entraria na roda de
bate-papo. Tomavam exatamente a terceira cerveja, os temas: mulher e
futebol já haviam circulado pelas ferrenhas línguas, então, o
assunto “trabalho” invariavelmente era abortado. O Betto não
falava, e sim, discursava efusivamente contra o chefe, quando chegou
o Chico, office-boy do escritório, que de vez em quando aparecia
para estas confraternizações. Ele cumprimentou todos e sentou-se ao
lado do Tiaguinho. Chico estava com uma cara de quem tinha algo para
contar, todos notaram a “face de fofoqueiro” que ele se
encontrava, exceto o Betto, que seguiu no seu pronunciamento contra o
chefe.
Em um momento de retomada de
fôlego, o Betto tomou um gole de cerveja, voltaria a sua fala,
quando o Chico, em um golpe preciso, “saltou” e questionou:
- Estão sabendo da novidade?
A turma virou-se para o Chico,
esquecendo completamente do Betto, e rebateram um sonoro: - Não! Mas
conta aí!
O Chico encheu o copo de
cerveja, acomodou-se melhor na cadeira, balançou a cabeça, e
proferiu:
- Vocês não vão acreditar
quem está grávida!
Um: - Quem? Ressoou em três
distintas vozes. Chico replicou:
- A Dé-bo-ra!
A Débora era a mulher mais
bonita da cidade. Certo que era uma cidade pequena, 45.000 mil
habitantes, mas ela era realmente linda. Uma morena “desenhada”,
do rosto ao corpo, por mãos divinas. Era muito desejada. Por onde
passava, ganhava adjetivos, dos mais gentis aos mais grosseiros, e
assovios. Não havia homem na cidade que não tivesse vontade de
transar com ela. A turma já estava perplexa com a novidade, foi
quando o Chico completou:
- Estão chocados? A “bomba”
não é essa, o pior eu vou contar agora: ela não sabe quem é o
pai. Terá de fazer um teste de DNA.
Foi aquele rebuliço na mesa.
Saíram comentários como: - Se não tem pai eu assumo! – É meu! E
mais uma série de bobagens. Foi então que olharam para o Castor.
Ele estava em silêncio, em um “pensar longe”. Desenhava na água
criada pela gélida cerveja na parte de fora do copo.
- O que foi Castor? Indagou o
Gordo.
E o Castor, no auge da sua
sabedoria, suspirou e redargüiu:
- Ai ai! Eu não queria ser o
pai dessa criança, apenas estar na lista dos possíveis...
* Jornalista e cronista
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