Conflitos
internos e externos da falsidade
* Por
Mara Narciso
Mediar
conflitos internos, brigar com fantasmas, criar medos, acabar com
eles, definindo o que é possível são tarefas árduas, quando não
impossíveis. Arrastam-se bolas de chumbo e correntes frutos da
insegurança, influenciada pela mídia. As ameaças vêm do macro
(bólido espacial), do micro (incontáveis vírus) e da falsidade.
Não se consegue ler o que está escrito, porque a intenção não
vem com o texto.
Conviver
em harmonia é tarefa complexa, por isso muitas pessoas preferem
largar gente para conviver com animal ou máquina - outra invasão.
Do convívio vem o conflito, então entram em cena os políticos,
porque fazer política é mediar conflitos. O Brasil sabe que a
política é conflituosa e incestuosa. Não pensa no coletivo, apenas
no egoísmo. A Política precisa ser reinventada, deixar de ser
pessoal e voltar a ser pública.
Isso
no atacado, no varejo do próprio quintal, a convivência tropeça
insegura. Há tantas cobras por ali, dando seus pequenos botes,
tirando seus pequenos, médios e grandes bocados, injetando seu
pérfido veneno, que alguns não têm imediata consciência dos
riscos e, por comodismo, deixam estar. Amores, amigos, funcionários
rondam por anos, e acostumam-se com suas maneiras, e muitas delas
fazem mal. Debitam-se os tropeços às características pessoais
imutáveis e dardos lançados são entendidos como normais. Sinal
amarelo: atenção!
Está
em voga aquele tipo de amigo que disputa tudo, medindo forças como
se nunca pudesse relaxar e ser ele próprio. Nem todos conseguem se
salvar, fugindo de pessoas envolventes, ardilosas, sinistras, que por
detrás do sorriso e alegado rol de bondades, têm objetivo
traiçoeiro. Há quem se sinta e queira provar, ainda que com
disfarces, que é mais do que o outro em tudo. Usa as pessoas de
forma vil, e muitos não se percebem usados. Acabam por acreditar que
são menos capazes do que quem os oprime/ dirige.
Num
tempo em que a palavra “amigo” não diz quase nada, mal serve
para diferenciar do inimigo, a qualquer momento pode-se mudar, e até
mesmo de forma radical. Bom seria arrumar outra expressão para
denominar quem compartilha dores e glórias, sem inveja. Ou
resignificar a palavra amigo, não se deixando levar pela vaidade,
compreendendo o limite do outro e se afastando das cobras (as
venenosas).
O
que se diz e o que se escreve escondem armadilhas. Não é possível
acreditar em palavras, áudios e vídeos. Os sentidos são enganados
com relativa facilidade. A questão vem: o que está por trás disso?
Sem paranoia, qual é a intenção dessa fala? Nada e tudo parecem
verdadeiros. Ainda que nas redes sociais se veja, leia e ouça “amor,
amigo e lindo”, a todo instante, e até por isso perderam o
sentido, o que se vê são inimigo, ódio, crueldade e feiura. A
interna maior do que a externa.
Os
internautas vão “surfando” e se sentindo lúcidos e certos,
confiantes e convictos, a cada hora manipulando ou se deixando levar
por um ou por outro, achando que pensam, que definem o próprio
caminho. São levados por onda forte, sem poder se agarrar ao
salva-vidas. E o pior, enganados, pensam que sabem, que podem, que o
caminho é fruto do acaso, sem um condutor maior: o Dinheiro.
Tomar
decisões está difícil, ainda que pareça o contrário. Depois é
não pensar em culpa e arrependimento. O que está feito está feito,
em nível pessoal e coletivo. O conjunto dá a dimensão do conflito
mental e social. Misturar para passar na peneira, sabendo que a
falsidade campeia o mundo, abraçada à mentira. Todos estão certos,
inclusive os errados. Como dizia Chacrinha: eu vim para confundir,
não para explicar. A internet anda assim. E os passos são largos.
Sair ileso do contato com as pessoas traiçoeiras e suas falsidades é
uma arte.
* Médica
endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
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