Tecendo a rede de afetos
* Por
Ana Flores
Dizem
que o que acontece pela internet não parece real. Que o
relacionamento afetivo virtual é artificial e quase sempre perigoso.
Há quem critique a troca de e-mails entre amigos e conhecidos,
muitas vezes morando a milhas de distância uns dos outros, alegando
que o insubstituível calor humano ao vivo sempre foi e continua
sendo o melhor e o mais autêntico carinho.
Quanto a isso não tenho dúvida, mas não custa pensar nos
dois lados dessa moeda tão injustiçada.
Se
você faz negócios com sites sem referências confiáveis ou
consulta seu saldo bancário pela internet, paga contas e faz
transferência de dinheiro sem tomar comprovadas precauções de
segurança, aí você tem chance de engrossar a lista de vítimas da
rede. E o preço a pagar pode ser bem salgado. Se você acredita em
correntes, obedece a tudo o que lhe mandam fazer nessas mensagens,
encaminha-as para pessoas de sua lista porque acredita que se não o
fizer pode correr riscos em sua vida pessoal, também está caindo
nos modernos contos-do-vigário e nas lendas urbanas que proliferam
na rede.
Bom-senso
e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Não é porque a
rede está aberta a todos que vou mergulhar de olhos fechados. Nem
vou clicar em links estranhos, de remetentes desconhecidos, só
porque alguém está jurando que foi meu colega de colégio e quer
mostrar fotos daquele tempo, e outras baboseiras parecidas. Nesses
casos, “Get smart!” é a palavra de ordem para quem quer ter na
internet uma aliada e não uma inimiga perigosa.
Mas
quando tenho a oportunidade de corresponder-me com pessoas queridas
que de outra maneira não poderiam se comunicar comigo, ver pelas
webcameras em tempo real filhos, netos e amigos que estão
geograficamente distantes de mim, isso me dá uma certeza
pessoalmente comprovada: o meio utilizado pode ser virtual, mas o
sentimento que esses momentos provocam é bem real.
Mata-se
a saudade, sim, quando recebemos e mandamos notícias por e-mail ou
simplesmente batemos papo pelo messenger, quando ouvimos pelo
skype vozes familiares ou aquelas que durante muito tempo
ficaram apenas guardadas na memória. Seria melhor um abraço
apertado e caloroso? Claro que sim! Apertar no colo os filhos e os
netos? Que dúvida! Mas na impossibilidade momentânea de isso
acontecer, não sou eu que vou desprezar essas alternativas que a
internet me oferece. Alternativas virtuais, sim. Irreais, não.
E
agora, com licença, vou responder ao e-mail de uma ex-colega de
trabalho que no momento dá aulas em Macau. Inté!
*
Jornalista
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