Invariável
* Por
Carlos Magalhães de Azeredo
Não
digas que uma estranha e imprevista mudança,
Notas
em meu olhar; que, manso e amigo outrora,
Hoje
lampejos de ira e de revolta lança,
E
em chamas de rancor infernal te devora.
Não;
ele é sempre igual - terno e devoto - embora
Não
tenha a luz da fé, nem o ardor da esperança;
Sem
crer no teu amor, o teu amor implora,
E
de acariciar-te as formas não se cansa...
Quando
de ti me vier a morte, quando um dia
Com
tuas próprias mãos me abafares na boca
O
suspiro final desta lenta agonia,
Inda
no mesmo olhar de submisso respeito
Verás
- rindo talvez! - alma leviana e louca,
O
supremo perdão do mal que me tens feito...
(Procelárias, 1898).
*
Advogado, jornalista, diplomata e escritor, um dos fundadores da
Academia Brasileira de Letras.
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