Hábito que faz o monge
“O hábito não faz o monge”, diz
conhecido dito popular, citado e repetido amiúde, quando se quer ilustrar o
quanto as aparências costumam enganar quem está habituado a tirar conclusões
apressadas sobre os semelhantes, baseado, apenas, no que vê. E, em certa
medida, todos nós, uma vez ou outra, agimos dessa maneira. Medimos a
capacidade, e até a “respeitabilidade” (quando não a projeção profissional e/ou
social) de uma pessoa, apenas pela forma como ela se veste.
Fazemos, por conseqüência, juízos
apressados (quando não ridículos), baseando-nos, somente, no aspecto exterior
de alguém, naquilo que é passivo de ser disfarçado, ou imitado. Há, inclusive,
quem faça desse comportamento uma espécie de regra (e não são poucos). E,
claro, cometem equívocos monumentais. E como se enganam!
Albert Einstein, por exemplo, tido e
havido como desleixado, no que diz respeito à forma de se trajar, e de se
apresentar socialmente (quem nunca viu a imagem do famoso cientista, com os cabelos
compridos e desgrenhados, mostrando a língua, como que a debochar dos que se
apegam somente às aparências?) jamais seria recebido no círculo social de quem
se utiliza desse parâmetro (tão comum, porém mesquinho) de avaliação.
No entanto... foi um dos maiores gênios
que o mundo já produziu em todos os tempos, respeitado e admirado não
exatamente por sua “elegância” (que não tinha), mas pela força do seu
raciocínio e pelo uso continuado e racional do seu cérebro privilegiado.
Inúmeros outros casos, como esse, poderiam ser mencionados, para mostrar o
quanto essa maneira de julgar o próximo é enganosa, quando não ridícula e
principalmente preconceituosa.
A forma de se trajar, porém, é uma
espécie de “cartão de visitas” nos nossos relacionamentos do dia a dia.
Principalmente nos contatos com os que nos são desconhecidos. E isso vale tanto
no plano profissional (os anúncios de oferta de emprego, invariavelmente,
exigem que o candidato tenha “boa aparência”), quanto no social e, às vezes (e
não tão raro assim), até no afetivo.
O modo de nos vestirmos tende a
determinar, por conseguinte, (salvo raras exceções), a forma com que seremos
recebidos (e tratados), por exemplo, em um escritório, em um banco, em uma
repartição, em um estabelecimento comercial, em uma casa de família, etc. Isto,
se nos receberem, é claro.
Se estivermos com uma roupa puída, ou
desbotada, ou amassada, ou que revele qualquer espécie de desleixo, de
desalinho ou de deselegância, podemos estar certos de que a recepção que nos
será tributada (se conseguirmos ser recebidos, convém reiterar) será, no
mínimo, arrogante, quando não hostil. O traje, portanto, ao contrário do que
reza o mencionado clichê, “faz o monge”. Hoje, raros jornais e revistas que se
prezam não têm editorias de Moda. Isso requer profissionais especializados, que
saibam o que dizem e que entendam, de fato, do riscado. E que aliem, a esse
conhecimento, sensibilidade e bom-gosto.
Reitero: infelizmente, o “hábito faz o
monge”. E como faz! Isto, apesar de todos os esforços, notadamente dos jovens,
para “desmoralizar” esse tipo de comportamento, que só leva em conta a
aparência exterior, aqueles sinais visíveis de riqueza ou de pobreza,
facilmente disfarçáveis e escamoteáveis, sem atentar para aquilo que a pessoa
de fato é.
Por paradoxal que possa parecer, a moda
conseguiu – notadamente a partir da segunda metade do século passado –
transformar, até, a “deselegância” em padrão de “elegância”. Cooptou, dessa
maneira, a rebeldia da juventude em relação à aparência (cabelos e barba compridos)
e ao traje, de movimentos como os dos “beatniks”, “hippies” e “punks”, entre outros.
Calças jeans, e ainda por cima puídas,
por exemplo, que eram vestes características de pessoas não apenas mal
vestidas, mas miseráveis (quando não indigentes), são ostentadas, hoje em dia,
com orgulho, como sendo “sumamente elegantes”, por rapazes e moças de classe
média e até de famílias abastadas, sem que quase ninguém mais repare e nem
estranhe.
Deixamos, para reflexão dos leitores, o
seguinte trecho do romance “Dedo nos Lábios”, de Afonso Schmidt, editado no
início dos anos 60 pelo Clube do Livro, pela pertinência e como ilustração do
assunto aqui tratado: “Que seria da grandeza dos reis, da glória dos marechais,
da santidade dos papas e da austeridade dos juizes sem a roupa que cobre as
misérias do corpo? A roupa começou pela tanga e pelo cocar, não foi feita para
resguardar do frio, mas para impor o domínio de alguns homens sobre os demais”.
E não foi?. Portanto, apesar das tantas mudanças verificadas no comportamento
das pessoas, (não sei se feliz ou infelizmente) “o traje ainda faz monge”...o
que contradiz o tão propalado clichê.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Talvez não faça, pois alguns, ao abrirem a boca, revelam o que são, mas abre portas para uma segunda chance.
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