Fonte dos atos
As pessoas que sabem e, sobretudo,
querem concretizar idéias (próprias e/ou alheias) em atos e que, de fato, as
concretizam, são sumamente valiosas em qualquer contexto social. Até aqui, não
expressei nenhuma novidade e me limitei a constatar o óbvio. Claro que me
refiro às ações positivas, porquanto há, e em grande profusão, quem se
especialize, apenas, em
destruir. Desses é melhor nem falar. Quero distância (e a
maior possível) de gente assim.
Há, também, (e suspeito que seja a
maioria) pessoas que não agem porque não sabem, não querem ou não podem. Às
primeiras, o remédio é ensiná-las a agir. Sempre é possível. As segundas ocupam
a categoria dos omissos e nada e ninguém consegue demovê-las dessa atitude
cômoda e covarde. O melhor é nunca contar com elas. Finalmente, às terceiras,
compete-nos dar-lhes um desconto e tentar suprir sua impossibilidade, agindo
por elas.
Todas as sociedades, em maior ou menor
grau, são compostas desses dois tipos: dos que agem e dos que (pelas razões
apontadas) não fazem isso. A palavra-chave para explicar os dois casos é uma
só. Aliás, é uma expressão fartamente utilizada, no entanto pouco compreendida.
Refiro-me à expressão “atitude”.
E no que ela consiste? Ou melhor, o que
significa? A própria raiz da palavra, “at”, já sugere seu significado. Ou seja,
é a predisposição mental e física que leva alguém a praticar um ato, em suma, a
agir. Querem uma definição mais técnica? Pois não! Lá vai! Recorro, todavia, ao
renomado psicólogo e ex-professor de Harvard, especialista em ciência do
comportamento, criador, entre outras tantas façanhas da “teoria da
personalidade”, tido e havido como um dos “pais” da Psicologia Social, Gordon
W. Allport.
Para esse pesquisador, “atitude é um
estado de preparação mental ou neural, organizado através da experiência e
exercendo uma influência dinâmica sobre as respostas individuais a todos os
objetos ou situações com que se relaciona”. Gostaram da definição? Creio que a
minha é mais simples, embora esteja longe da desejada precisão.
Convém ressaltar que nem toda atitude é
positiva. Há os que se predispõem a agir, é verdade, mas para prejudicar a
alguém, quando não a si próprios. Isso é muito comum. Melhor seria, pois, é
evidente, que não tivessem essa predisposição.
É possível que alguém aja sem intenção (desculpa
a que muitos recorrem, amiúde, principalmente quando constatam que seus atos
trouxeram prejuízos, às vezes até irreparáveis, aos outros)? Não, não e não!!!
Não há ato (positivo ou negativo, construtivo, neutro ou destrutivo) que não
seja rigorosamente intencional. Pode ser que seu autor não tencionasse causar
danos com sua ação. Mas esta, intrinsecamente, sempre é de caso pensado, quer
seu autor admita, quer não.
E quem assegura isso não sou eu, mero
curioso de psicologia e da ciência do comportamento (a Etologia). É o mestre já
citado, Gordon W. Allport, que escreveu, em um de seus tantos livros: “A
tradição leibnitziana afirma que a pessoa não é uma coleção de atos, a pessoa é
a fonte dos atos. E a atividade em si não é concebida como uma agitação
resultante de impulsos dados por estímulos internos ou externos. Ela é
intencional”.
Estão vendo? A desculpa, portanto, dada
por seu filho, de que “não queria quebrar aquele precioso vaso de porcelana
chinesa da Dinastia Ming” não cola. É certo que provavelmente não desejasse
destruir esse valioso objeto que você estima tanto. Mas desejava jogar bola
(tanto que jogou). E por mais ingênuo que possa ser (não sei se é), sabia que
uma bolada acidental, o que era muito provável dada a inadequação do local para
esse tipo de brincadeira, produziria o resultado que produziu.
A quais conclusões podemos chegar
dessas nossas descompromissadas reflexões? A primeira é a de que nossos atos,
todos, derivam de uma atitude (a mesma que Wanderley Luxemburgo, Dunga, Muricy
Ramalho e outros tantos técnicos de futebol cobravam, amiúde, de seus
jogadores, quando em atividade, possivelmente sem saberem do que estavam
falando, quando seus respectivos times não correspondiam ao que sua diretoria e
seus torcedores esperavam deles). Ou seja, vontade e predisposição de agir (no
caso, com competência e talento). E a efetivação dessa ação, é claro.
A segunda e mais importante das
conclusões que podemos extrair é a de que nenhum ato é aleatório, fortuito,
praticado meramente ao sabor do acaso e das circunstâncias. E muito menos
resulta de impulsos internos ou externos. É, sempre e sempre, fruto de uma
intenção. Ou seja, não somos, como alguns pensam, coleções de atos. Somos suas
fontes.
Boa leitura!
O Editor.
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Cada um é a sua história e a sua memória. Agir, um bom caminho, mas há quem valorize exatamente o seu oposto.
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