Novelos e novelas
* Por
Marcelo Sguassábia
Ninguém pode afirmar
com absoluta certeza, mas tudo leva a crer que o termo "novela" vem
de "novelo". O fato de ser algo que vai se desenrolando aos poucos
explica esse bem aplicado batismo.
Mas novela não só vem
de novelo. Ela vende novelo, com o perdão do trocadilho. Se por um lado vemos a
TV perdendo audiência dia a dia para a internet, por outro é crescente a fatia
populacional da chamada terceira idade. Tem mais vovós crochetando e tricotando
em frente à boa e velha televisão do que sonha a vã filosofia do Mark
Zuckerberg. Por mais que as vovozinhas de hoje saibam também manejar com
destreza seus perfis no facebook e no instagram.
Essa nova realidade
inspirou um plano ambicioso e detalhadamente articulado, envolvendo o núcleo de
projetos especiais da emissora líder e o maior nome da nossa indústria têxtil.
O patrocinador da novela é o fabricante do novelo. Além de milhares de
inserções de merchandising no enredo televisivo, a marca fica licenciada a
utilizar nomes, fotos de atores, sinopses e o que mais julgar conveniente em
seus produtos. Incluindo a embalagem - no caso, aquela tira de papel que abraça
a lã.
Ao final de cada
novelo, a vovó encontrará uma dica sobre o fim da novela, agregada a um cupom
de desconto para a compra do próximo suprimento de lã. Um círculo perpétuo de
consumo. Novelo após novelo, novela após novela. A trama do folhetim em
absoluta sintonia com a trama do tricô e do crochê.
No quesito
interatividade, há um rol imenso de ideias. Sendo o público idoso cada vez mais
representativo no universo da audiência, os velhinhos e velhinhas também seriam
os galãs e vilões da novela. Isso criaria uma maior identificação do
telespectador com o elenco, ampliando exponencialmente o Ibope. A primeira ação
interativa já está aprovada, e consiste em um concurso de figurinos. O público
cria e confecciona roupas para os atores, necessariamente produzidas com a lã
do patrocinador. As melhores ou mais originais irão vestir os personagens, e os
nomes dos figurinistas domésticos constarão nos créditos em destaque, lado a
lado com os nomes dos astros e estrelas. A anciã-estilista que mais se destacar
ganha ainda uma aparição especial no último capítulo.
Uma grande ação de
cross marketing irá amarrar comercialmente o processo, até mesmo junto às
velhinhas não adeptas do tricô e do crochê. Em parceria com uma rede de lojas
de roupas, as peças de vestuário feitas com a lã e que aparecem na trama serão
expostas com destaque nos pontos de venda. Em cada cabide, um apelo chamando
para assistir à novela; e na novela, em contrapartida, cenas gravadas dentro do
magazine. Uma perfeita e harmônica engrenagem promocional, onde todos os
envolvidos ganham. A seguir, cenas dos próximos capítulos.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Entre novela e novelo, prefiro o Facebook, mas venho todos os dias no Literário.
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