A
quem interessa a destruição do Brasil
* Por
Emir Sader
Em poucos meses ficou
claro que o governo surgido do golpe só tem agenda negativa: a destruição do
patrimônio público – da Petrobras e do pré-sal em primeiro lugar, mas também
dos bancos públicos -, dos recursos para políticas sociais, dos direitos dos trabalhadores
e da soberania na política externa do Brasil.
Faz isso com extremo
afinco, como se tivesse recebido delegação popular para isso. No entanto,
aplica um programa extremamente antipopular, derrotado sucessivamente nas
urnas, contando com um apoio irrisório de pessoas, mas não se importando com
isso.
Assumiu o objetivo
histórico de interromper os governos do PT, que tinham caminhado na direção
oposta: fortalecimento das empresas estatais, da Petrobras, mas também dos
bancos públicos; o maior processo de democratização social da história do país,
com a construção de um mercado interno de consumo popular, com a inclusão
social de dezenas de milhões de pessoas; a promoção do poder aquisitivo dos
trabalhadores de forma permanente; a projeção do país no mundo mediante uma política
externa soberana.
Os governos desde 2003
demonstraram como é possível, mesmo na contramão do que acontece no mundo,
diminuir a desigualdade social, terminar com a fome e a miséria. Como é
possível o Brasil priorizar as políticas de integração regional ao invés dos
Tratados de Livre Comércio com os EUA; como a integração com os Brics é o
caminho alternativo a um mundo em recessão.
Contra tudo isso que
se erige o governo do golpe. Antes de tudo, no plano interno, desarticular o
modelo de crescimento econômico, favorecendo a consolidação da hegemonia do
capital financeiro, em detrimento dos investimentos produtivos.
Concomitantemente, elevar o desemprego, enfraquecendo a capacidade de
negociação dos sindicatos, barateando ainda mais a força de trabalho e elevando
a superexploração dos trabalhadores e os super lucros dos patrões.
No plano externo,
enfraquecer os Brics, isolar o Brasil desse eixo fundamental de criação de um
mundo multipolar e favorecer os interesses dos EUA de abaixar o perfil do país
na América Latina e no mundo.
Quem perde com essas
desarticulações? Em primeiro lugar o povo brasileiro, a grande maioria da
população, beneficiária das políticas sociais e dos reajustes dos salários
acima da inflação. Aumentam o desemprego, o abandono, as populações de rua, a
precariedade do trabalho, aumenta a concentração de renda e a exclusão social.
Em segundo lugar,
perde o projeto de um Brasil produtivo, que cresce e gera empregos e renda para
todos. Perde a imagem do Brasil na América Latina e no mundo. Perde a
possibilidade de voltar a demonstrar que é possível um projeto de desenvolvimento
com distribuição de renda, que esta é funcional e alimenta a expansão
econômica.
Em terceiro lugar,
perdem o Brasil no mundo, a América Latina e o Sul do mundo, que tinham no
nosso país uma referência fundamental. Perdem os que acreditam na construção de
um mundo menos desigual, com menos concentração de renda e de poder.
Em quarto lugar, perde
a democracia que se construía no Brasil, com grandes esforços, incluindo a toda
a população, deixando nas mãos do povo a escolha sobre quem deveria governar o
país.
Perde, finalmente, a
esperança, a confiança no Brasil, o orgulho de ser brasileiro, a possibilidade
de construção de um país solidário, baseado na igualdade e na justiça.
A reconstrução do
Brasil interessa assim à grande maioria da sua população, a todos os que
acreditam na democracia, os que confiam que a projeção de um Brasil líder na
região e no Sul do mundo seja boa para nós e para a grande maioria dos países
do mundo.
*
Sociólogo e cientista político
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