Definição de eternidade
O conceito de eternidade é um dos mais
difíceis (senão impossíveis) de serem entendidos por nós, já que, óbvio, somos
todos mortais e com tempo restrito (e desconhecido) de vida. Não conhecemos
nenhum ser que já tivéssemos visto de perto ou de quem tivéssemos mesmo que
esparsa notícia, que tenha sido ou que seja eterno. Não existe quem viva para
sempre, sem sofrer os desgastes e os efeitos da passagem do tempo.
Há alguns animais (como o elefante, a
baleia e a tartaruga) que chegam a viver centenas de anos, se não forem, claro,
molestados pelo homem. Mas essa longevidade não sugere, sequer palidamente, que
sejam “eternos”. O que são, por exemplo, duzentos, quinhentos, mil anos para a
eternidade? Ou cinco bilhões deles? Ou, até, alguns trilhões e por aí afora?
Não são nada, óbvio!
Quando se fala em eternidade, o único
parâmetro que nos vem de imediato à mente é Deus. Mas Este ninguém vê, embora
sinta a sua presença e existência por todo o lado para o qual olhe, por suas
concretas manifestações. Se não existisse, nada, absolutamente nada existiria!
Vê-lo, porém, ninguém viu e nem poderia, tamanho, certamente, é seu esplendor e
grandeza.
Como só entendemos, de fato, as coisas
pela experiência pessoal, quem disser que entende o sentido lato da palavra
“eterno” só pode estar mentindo ou estar profundamente equivocado. Definições
até que existem várias (na maioria, plausíveis), mas definir nem sempre
significa entender. E este é um desses casos.
Esta é uma das situações em que as duas
expressões (definição e entendimento) não se combinam. Para Anicius Manlius
Torquatus Severinus Boethius (mais conhecido como Boécio), filósofo e estadista
romano, por exemplo, eternidade é “interminabilis vitae tota simul et perfecta
possessio”. Ou seja, “posse perfeita e simultaneamente total de vida
interminável”. Definição perfeita! Mas no fundo da alma, com toda a
sinceridade, é possível aferir se ela é correta ou não? Por qual parâmetro?
Pois é! Definir não é, de fato, “entender”.
Algumas pessoas, no entanto, esbanjam
arrogância com os conhecimentos que têm. Julgam-se oniscientes e acham que
entendem tudo o que as cerca, como se isso fosse possível. Não é. É pura
empáfia! Temos, apenas, pálida, palidíssima, restrita, restritíssima, mínima,
ínfima idéia de onde estamos e como tudo o que nos cerca funciona.
O homem ainda está engatinhando, em
termos de sabedoria, a despeito dos avanços da ciência e, sobretudo, da
tecnologia. Desconhece o que é primário, elementar, fundamental para que se
considere sábio. Não consegue, sequer, intuir os conceitos de infinito e de
eterno, que não cabem em seu entendimento.
Com seus parcos instrumentos e sua
mente maravilhosa (é verdade), porém limitada, tem a veleidade de estabelecer
limites para o universo e até um princípio e fim. Tolice. Todavia, devemos
insistir na tentativa de entendimento não só dos conceitos citados, mas de
tantos outros. O conhecimento não ocupa lugar no nosso cérebro e nos confere
segurança e lucidez. Quanto mais pudermos saber, melhores seremos.
Quanto mais ecléticos formos,
desenvolvendo múltiplas habilidades (o máximo que pudermos) maiores serão
nossas chances de compreensão do universo e, conseqüentemente, de obtermos
sucesso na vida. Compete-nos buscar, sempre, a pluralidade, nunca a
singularidade.
Devemos direcionar nosso espírito tanto
para as artes, quanto para as ciências (que não são excludentes, como muitos
pensam); tanto para a objetividade, quanto para a subjetividade, a fantasia e a
criatividade. Nosso potencial de aprendizado e de retenção de conhecimentos é
imenso, virtualmente indimensionável, já que, ao longo de toda uma vida, não
preenchemos, sequer, 5% (no caso dos gênios) dos bilhões de neurônios que o
nosso cérebro contém.
Daí ser possível (e desejável) a
pluralidade. Aliás, o universo é plural. A matéria o é. A energia tem essa
característica. As leis que os regem são múltiplas e complexas. Tudo é plural
na vastidão do espaço. Por que não sermos também? Esse é o sentido desta
recomendação de Fernando Pessoa, num dos seus tantos textos: “Sê plural como o
universo!”. Provavelmente na pluralidade infinita esteja a definição mais exata
e rigorosa de eternidade. Minha singularidade atual, porém, não permite que
diga isso com segurança.
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Sinto-me limitadíssima em relação ao tema. Falo e repito: passou de mil eu já não entendo quanto é. Infinito, eternidade, fico tonta só de imaginar o gigante Júpiter recebendo em sua consistência gasosa um visitante muito maior do que a Terra, sem nem se mexer.
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